Crise militar e política provocada pela guerra pode durar 2 ou 3 anos

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, alertou hoje que a crise militar e política provocada pela Rússia poderá prolongar-se por dois ou três anos, pelo que defendeu ser fundamental manter a unidade transatlântica.

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Lusa
02/05/2022 17:26 ‧ 02/05/2022 por Lusa

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Cravinho

Numa intervenção num encontro com legisladores norte-americanos em Lisboa, promovido pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), Cravinho defendeu que a resposta que tem sido dada à crise provocada pela guerra na Ucrânia tornou clara a necessidade de a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA) trabalharem em conjunto.

"Há um sentido crescente de que estamos a falar de algo que vai estar connosco durante algum tempo, durante alguns anos, dois, três anos, provavelmente, à medida que o lado militar se vai desgastando e que a reconfiguração política leva o seu tempo a tornar-se aparente", disse o chefe da diplomacia portuguesa.

João Gomes Cravinho disse também que as sanções ocidentais contra a Rússia terão "efeitos graves nos bolsos do russo médio dentro de alguns meses", porque as medidas para as atenuar dotadas pelas autoridades de Moscovo só têm efeito a curto prazo.

"O problema que a Rússia enfrenta é que as sanções não vão ser levantadas", afirmou o chefe da diplomacia portuguesa.

Numa reação à invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, a UE, os EUA e outros países, como o Japão, têm decretado sucessivos pacotes de sanções contra a Rússia, além de fornecerem armamento às forças de Kiev.

O encontro de dois dias promovido pela FLAD reúne 19 membros do Congresso norte-americano e de senados estaduais com ascendência portuguesa, que vão ouvir ao fim da tarde de hoje uma intervenção do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Na sua comunicação no encontro da FLAD, João Gomes Cravinho salientou que a relação transatlântica é baseada em valores partilhados há mais de sete décadas, como a democracia, a liberdade, o multilateralismo, o Estado de direito e os direitos humanos.

Admitiu que, por vezes, há algumas divergências entre os dois lados do Atlântico, mas considerou que são "relativamente menores em comparação com os interesses partilhados" e que a relação deve ser encarada no longo prazo.

"A colaboração transatlântica tem de ser central em questões como a transição digital, energia verde sustentável, em toda a gama de desenvolvimentos sociais e económicos sustentáveis", defendeu.

Cravinho considerou que o Ocidente surpreendeu a Rússia ao reagir de forma coerente e consistente, e que uma das consequências da crise foi o fortalecimento da cooperação entre a UE e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

O conflito iniciado há 68 dias, segundo o ministro, fez também com que as questões da defesa e segurança se tornassem prioritárias pela primeira vez na Europa desde o fim da Guerra Fria, em 1991.

Recordando aos legisladores norte-americanos que foi ministro da Defesa no executivo anterior, Cravinho disse que a arquitetura da segurança europeia passa por uma parceria forte entre a UE e a NATO.

Referiu que Portugal é a favor do desenvolvimento de uma identidade de defesa europeia, mas que isso não é incompatível com a relação com a NATO.

Nesse sentido, ironizou que o líder da Rússia, Vladimir Putin, "tem sido extremamente bem-sucedido em produzir o resultado oposto de tudo o que pretendia".

"Um dos aspetos é precisamente este entendimento claro entre todos os europeus de que a NATO, e a relação com os EUA, é fundamental para os nossos interesses de segurança mais básicos", disse.

A energia é outro setor em que João Gomes Cravinho disse ver um efeito contrário aos interesses russos, dado que a guerra na Ucrânia expôs a excessiva dependência da UE em relação à Rússia.

Cravinho salientou que Portugal não está dependente do gás e petróleo russos e iniciou a transição energética há mais de uma década, o que permitiu que cerca de metade das necessidades do país sejam asseguradas pelas energias renováveis.

Nas alternativas aos fornecimentos russos, defendeu que Portugal pode ter um "papel significativo" com o porto de Sines, porque os EUA são o maior fornecedor de gás natural liquefeito da UE.

Cravinho disse ainda aos legisladores luso-americanos, maioritariamente com raízes nos Açores, que o arquipélago voltou a ganhar relevância geopolítica.

"Devido a estas novas ameaças russas, estamos a descobrir que o Atlântico está a tornar-se cada vez mais politicamente relevante", disse.

Nos desafios futuros, considerou que a "ascensão da China é um enorme desafio para todos" e defendeu a importância do combate às alterações climáticas e à preservação dos oceanos, lembrando a conferência da ONU que Portugal vai acolher no final de junho.

Leia Também: Ucrânia identifica o primeiro suspeito do massacre em Bucha

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