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Igreja. Medidas contra abusadores dependem da credibilidade das denúncias

Quaisquer medidas contra perpetradores de abusos sexuais na igreja católica vão depender da credibilidade das denúncias e apuramento da culpa, disse hoje o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, sublinhando que direito canónico e penal têm prazos de prescrição distintos.

Igreja. Medidas contra abusadores dependem da credibilidade das denúncias
Notícias ao Minuto

21:26 - 10/05/22 por Lusa

País Abusos sexuais

Em resposta aos jornalistas no final de uma sessão da conferência organizada pela Comissão Independente do Estudo sobre Abuso Sexual de Crianças na Igreja Católica Portuguesa (CI), José Ornelas disse que quaisquer medidas, mesmo que preventivas, vão depender de uma "credibilidade assegurada" das denúncias e da validação da culpa.

"O processo judicial é sempre acompanhado também de um processo canónico e as pessoas que são culpadas de abusos sexuais de menores evidentemente que não continuam em funções", disse na Fundação Calouste Gulbenkian, onde decorreu a conferência.

Sublinhou também que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) não tem qualquer conhecimento dos casos concretos denunciados pela CI ao Ministério Público (MP) e qual tal só acontecerá quando a comissão produzir o seu relatório final.

"Nós não temos ainda aquilo que foi para o MP e o que foi para o MP está em segredo de justiça. Não temos informação clara sobre isto", disse, sublinhando que mesmo perante uma "denúncia credível" a CI "não tem capacidade para dizer que a pessoa é culpada", lembrando que a comissão sempre frisou não ter um objetivo de investigação criminal.

Defendeu também que não lhe compete tornar público os nomes e rostos dos envolvidos.

"Os nomes e rostos de pessoas não compete a mim dá-los, compete a todo um processo, que só assim é que é verdadeiro, autêntico e realmente capaz de transformar as coisas. Não é na rua, não é num contexto destes que se dá nomes. Esses nomes têm que ser fruto de uma investigação, porque isso é aquilo que também é libertador para as pessoas. Não vamos criar um processo na estrada, porque isso não serviria nem a justiça, nem o direito, nem as vítimas", disse.

Sobre as centenas de queixas recebidas pela CI que já não podem ser tratadas judicialmente, e questionado sobre o que pode a igreja católica fazer em relação a esses casos, José Ornelas disse que é preciso ter em conta que há pessoas que falaram sob anonimato e assim querem permanecer e que em casos com mais de 40 ou 50 anos passados sobre o crime há pessoas que apenas querem que sejam do conhecimento da igreja e das autoridades e não que deem origem a um processo judicial, pelo qual não querem passar.

O presidente da CEP defendeu que o caminho que a igreja católica tem que fazer nesta matéria é o mesmo que tem que ser feito pela sociedade portuguesa, substituindo uma cultura enraizada de conivência, desvalorização e ocultação do problema, por outra de maior atenção social e prevenção.

"Todos como sociedade temos que fazer um caminho para que as nossas crianças vivam em ambientes mais seguros. Isto não é simplesmente uma questão de leis. Grande parte destes casos passam-se em ambientes familiares e é preciso é criar uma cultura, uma atenção nova, nas escolas, nas instituições, nas vizinhanças, para que possamos ser uma sociedade melhor a todos os níveis. É importante a lei, mas é importante o movimento de consciencialização", disse.

O presidente da CEP defendeu que a maior consciência atual sobre a questão dos abusos sexuais deve levar a uma nova cultura e abordagem em que se compreende "o caráter devastador que estas coisas têm".

Leia Também: Comissão Independente pede à Igreja Católica para "vencer o medo"

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