Morreu, esta terça-feira, Jean-Marie Le Pen, cofundador da Frente Nacional francesa. Tinha 96 anos de idade.
"Jean-Marie Le Pen, rodeado pela sua família, foi chamado de volta a Deus às 12:00 [11h00 em Lisboa] de terça-feira", declarou a família num comunicado enviado à AFP.
O Palácio do Eliseu reagiu pouco depois, através de comunicado de imprensa, considerando que Le Pen está agora "sujeito ao julgamento da História".
O político, figura histórica da extrema-direita francesa, recorde-se, fora internado em novembro e estava, desde então, com saúde debilitada.
Segundo noticiam vários meios franceses, apesar de estar afastado das lides políticas há alguns anos, a morte de Jean-Marie representa "o fim de uma era política".
Nascido em 20 de junho de 1928 em La Trinité-sur-Mer, oeste da França, e formado em direito, Jean-Marie serviu como legionário nas guerras da Indochina (1953) e Argélia (1957).
Jean-Marie Le Pen foi eleito o deputado mais jovem do Parlamento em 1956, com 27 anos, e cumpriu o seu último mandato sessenta e três anos depois, como deputado europeu, em julho de 2019, com 91 anos.
O político foi candidato à Presidência da França cinco vezes e abalou o sistema político francês quando, inesperadamente, chegou à segunda volta das eleições presidenciais contra Jacques Chirac em 2002, com um misto de populismo e carisma.
Figura polarizadora na política francesa, Le Pen era conhecido pela sua retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo, que lhe valeu tanto apoiantes fiéis como uma condenação generalizada.
As suas declarações polémicas conduziram a múltiplas condenações e prejudicaram as suas alianças políticas, mas o político nunca se arrependeu dos seus excessos, muitas vezes repetidos: das câmaras de gás, "um pormenor da História", à "desigualdade das raças" (1996), passando pela ocupação alemã "não particularmente desumana" (2005) ou pela agressão física a um adversário socialista (1997).
A sua filha Marine Le Pen sucedeu-lhe na liderança do partido, tendo-se candidatado à presidência por três vezes e transformado o partido, agora denominado Rally Nacional, numa das principais forças políticas do país. Marine Le Pen mudou o nome do partido em 2018 para se demarcar da sua imagem "demonizada" e expandir o seu apelo eleitoral, culminando no seu próprio sucesso presidencial.
A notícia da morte apanhou de surpresa a sua filha, que estava a regressar a Paris vinda do arquipélago francês de Mayotte, no Oceano Índico, e que foi informada pelos jornalistas, disse um correspondente especial da France Info que viajava com a política no avião.
Jean-Marie e Marine Le Pen© Getty Images/NurPhoto/NurPhoto
Em abril de 2023, recorde-se, o homem afirmou não temer a morte. A afirmação aconteceu quando era transportado para o hospital, depois de sofrer um ataque cardíaco. Na ambulância começou a cantar. "Acompanhou-me durante toda a minha vida. Por isso, não a temo, não me assusta", disse, citado pelo Le Parisien.
"Alistado com o uniforme do exército francês na Indochina e na Argélia, tribuno do povo na Assembleia Nacional e no Parlamento Europeu, sempre serviu a França, defendeu a sua identidade e a sua soberania", saudou hoje o presidente do RN, Jordan Bardella.
[Notícia atualizada às 12h53]
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