Abusos. Igreja reconheceu tarde importância de comissão independente
A igreja católica deveria ter reconhecido mais cedo a importância de criar uma comissão independente para recolher denúncias de abusos sexuais, admitiu o presidente da conferência episcopal, que reiterou pedidos de desculpas e agradeceu a "coragem libertadora" dos testemunhos.
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País Abusos sexuais
Na sua intervenção numa conferência hoje organizada pela Comissão Independente do Estudo sobre Abuso Sexual de Crianças na Igreja Católica Portuguesa (CI), o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, defendeu que os abusos sexuais, do ponto de vista da igreja, "são particularmente graves", pela forma como afetam o desenvolvimento das crianças "causando traumas que se arrastam ao longo da vida inteira".
"Daí a importância que colocamos nesta CI, conferindo-lhes real capacidade de acolhimento e auscultação das pessoas que foram vítimas destas infelizes situações. A autonomia e o caráter nacional são elementos fundamentais para os resultados que queremos obter. O nosso projeto sempre foi desde o início de fazer luz, de clarificar esta questão dentro da nossa igreja em Portugal", disse esta tarde na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Apesar de reconhecer a importância do papel das comissões diocesanas, pela sua proximidade e pelo papel futuro que podem desempenhar na formação e educação daqueles que na igreja trabalham com crianças "do ponto de vista das vítimas para se declararem acabou por não funcionar".
"A falta de experiência também levou a isso e nós fomos crescendo também na compreensão e na resposta a dar. E a primeira coisa era compreender que isto só localmente não ia funcionar. Para o acompanhamento vai ser fundamental, para prevenção, educação, formação. Mas para as vítimas precisávamos de algo que fosse próximo talvez mantendo também a distância e isto foi a razão por que se começou pela ideia de uma equipa nacional", disse.
O foco nas vítimas era o mais importante, frisou, e percebendo que "era preciso mudar", a CI "e a sua independência" era para a igreja "tão importante".
O papel da CI, no entanto, "não anula, antes reforça" aquele que cabe às comissões diocesanas na prevenção e formação, para "criar uma cultura de respeito e de segurança, mas também saber quando acontecem 'avarias' saber como ir ao encontro delas e com que meios", não esquecendo que, para além das vítimas, é preciso cuidar dos que causam os problemas.
Às vítimas, José Ornelas reiterou o pedido de perdão pelos abusos sofridos.
"Aqueles e aquelas que foram vítimas destas dolorosas situações quero reiterar o pedido de perdão por toda a falta de atenção ao vosso sofrimento ou de prevenção às suas causas. Quero também exprimir gratidão pela coragem sofrida daqueles que ousaram ir para além da dor para denunciar aquilo e aqueles que a causaram. Espero que a vossa coragem libertadora possa motivar outros em situação semelhante a dar também esse passo, oferecendo um dos principais contributos para a libertação e para a criação de uma nova cultura para um futuro digno, justo e acolhedor", disse.
Já no final da sessão, em declarações aos jornalistas, o presidente da CEP sublinhou a importância de agir no presente.
"Se há uma guerra é preciso travá-la. Impedir o máximo de novos casos. Não sei se poderemos impedir sempre, não posso garantir. O que quero é que se crie uma mentalidade para evitar o mais possível coisas destas pelo desastre que elas causam e, se acontecem, que saibamos como tratá-las", disse.
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