"É inaceitável que num teatro de operações com aquela complexidade, que esteja a haver uma tentativa de julgamento de um comandante de bombeiros, quando nós sabemos que um fogo dessa complexidade, se alguém tem que estar no tribunal é o sistema, não é um comandante de bombeiros que deu o seu melhor, que dá o seu melhor", afirmou António Nunes, junto ao Tribunal Judicial de Leiria, onde hoje prosseguiu o julgamento para determinar eventuais responsabilidades criminais nos incêndios de junho de 2017 em Pedrógão Grande, no qual um dos 11 arguidos é o comandante da corporação do concelho.
Na sessão de hoje, decorreram as alegações finais por parte da mandatária de Augusto Arnaut, motivo pelo qual se concentraram no exterior do edifício cerca de duas centenas de bombeiros, sobretudo comandantes de todo o país, numa manifestação de solidariedade.
O presidente da LBP defendeu que Augusto Arnaut "não merece por aquilo que está a passar, porque não se pode pedir aos bombeiros, quando tudo falha, que consigam resolver as situações".
"É preciso entendermos que nos incêndios florestais há a fase da prevenção e a fase do planeamento, quando estas duas fases falham, entram os bombeiros, são o terceiro pilar do sistema e, portanto, não é admissível que isto possa acontecer", declarou, dizendo acreditar na justiça.
Questionado se está aberto o precedente, para que, no futuro, vários comandantes de bombeiros, num teatro de operações possam pedir meios a mais de forma consciente, só para evitarem que de futuro se sentem no banco dos réus, respondeu negativamente.
"Os bombeiros são pessoas conscientes", afirmou, reclamando de novo um comando nacional de bombeiros.
"Não pode existir só um corpo de bombeiros, tem que existir uma gestão integrada de meios dos bombeiros, exatamente como existe noutros agentes de proteção civil e portanto, aquilo que nós temos vindo a pedir ao Governo é que seja reposto o comando nacional de bombeiros", disse.
António Nunes manifestou a "certeza absoluta que, se tal tivesse acontecido em 2017, esta situação hoje não se estava a passar", considerando "inadmissível que o Estado se tenha ausentado das suas responsabilidades".
Para o presidente da LBP "isto é responsabilidade do Estado, não é responsabilidade de uma associação, de um corpo bombeiros e em particular de um comandante de bombeiros", concluiu.
Augusto Arnaut está a ser julgado por 63 crimes de homicídio e 44 de ofensa à integridade física, 12 dos quais graves, todos por negligência, tendo o Ministério Público pedido a sua condenação a prisão efetiva superior a cinco anos.
A LBP considerou em 19 de maio que, se o Comando Nacional de Bombeiros já estivesse instalado, chamaria a Proteção Civil a assumir as responsabilidades de que se tem alheado na sequência dos incêndios de Pedrógão Grande.
Em junho de 2019, quando foi conhecido o despacho de acusação deste processo, a LPB considerou que aquele foi um "ataque aos bombeiros, procurando criar em Augusto Arnaut um "bode expiatório".
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