Em entrevista à Lusa, em Nova Iorque, o ministro João Gomes Cravinho afirmou que já abordou "com serenidade" o tema com outros países lusófonos, avaliando que as divergências são um sinal de "heterogeneidade" da comunidade.
"Vejo com toda a naturalidade. A CPLP é uma família e nas famílias nem toda a gente tem as mesmas opiniões sobre todas as coisas. Portanto, vejo com toda a naturalidade. Mas repare-se que no quadro da CPLP, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste têm tido as mesmas posições que Portugal", disse o governante.
Em causa estão resoluções que foram a votos na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que pediam a condenação e a responsabilização da Rússia pela crise humanitária na Ucrânia devido à guerra e a suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos.
Nas votações, que decorreram em março e abril, registaram-se divergências entre os membros da CPLP, com vários países lusófonos a absterem-se de condenar a Rússia.
Por exemplo, na votação para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde foram alguns dos que se abstiveram, e na votação que responsabilizava Moscovo pela crise humanitária Angola, Moçambique e Guiné-Bissau optaram pela abstenção.
"O Brasil, Angola e Moçambique têm posições diferentes, mas isso não nos impede de todo de dialogar com esses países, trocar opiniões, tentar entender as razões de cada um. Tive uma sexta-feira passada uma reunião ministerial da CPLP em Luanda e o assunto foi conversado, mas com toda a serenidade, toda a facilidade com que sempre falamos de todas as coisas. Portanto, vejo com naturalidade esta heterogeneidade da nossa comunidade", sublinhou o MNE.
Cravinho assegurou que este não é "de todo um tema fraturante" para as relações da CPLP: "É simplesmente um tema sobre o qual não temos uma homogeneidade de pontos de vista. Mas não é fraturante porque não toca na essência daquilo que é a nossa comunidade", observou.
Em entrevista à Lusa também em Nova Iorque, a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicana, Verónica Macamo, justificou a abstenção do seu país na ONU com a observação de que ao se abster, Moçambique estaria "numa situação mais privilegiada de persuadir as partes para que se opte pelo diálogo".
"É necessário recorrer ao diálogo, que traz efetivamente condições para que haja consenso. Os consensos, logicamente, conduzem à paz. A defesa da nossa posição é que todos nós, estou a falar de todas as nações, deveríamos persuadir (...) a Ucrânia e a Rússia a sentarem-se para encontrar formas de ultrapassar o problema", disse.
A ministra referiu que também Moçambique teve "16 anos de guerra e desses 16 anos foram tiradas lições e ilações da destruição, das mortes, do luto e da dor" que o conflito causa e, por isso, o país africano defende o diálogo como "melhor arma".
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