O historiador e jornalista José Milhazes reagiu, na noite de terça-feira, à morte de Mikhail Gorbachev (Gorbatchov), que considerou "o último grande político do séc. XX" e duvidou das condolências endereçadas pelo Kremlin à família do último líder da URSS.
"A lamentação de Putin a mim não me convence", referiu, na antena da SIC Notícias, já depois de o porta-voz do Kremlin ter reagido à notícia e garantido que Putin iria enviar uma mensagem à "família e amigos" esta quarta-feira.
O comentador da SIC recorda mesmo que o presidente da Rússia já classificou o fim da União Soviética como "a maior catástrofe geopolítica" do século XX.
"A maioria dos russos não irá chorar a morte deste grande político por várias razões, exatamente por considerarem que ele não soube conservar a União Soviética", opinou.
"Mikhail Gorbachev é tão impopular no seu país quanto popular do Ocidente", afirmou Milhazes, que classificou ainda o antigo líder como "uma figura histórica imensa, talvez uma das maiores do séc. XX, mas contraditória".
O historiador lembrou também que Gorbachev "pegou no poder num momento extremamente difícil para a União Soviética" que acabou por ditar a queda do bloco.
"Ele fez aquilo que, hoje, Putin tenta desfazer, principalmente depois da invasão da Ucrânia", afirmou o historiador, que salienta que o antigo líder da URSS condenou firmemente a atual guerra, "considerando isso um desastre da política externa da Rússia".
Além disso, queria reestruturar a sociedade soviética, nomeadamente a economia, mas "não conseguiu porque a economia económica estava podre, estava esmagada pela corrida ao armamento".
Na opinião de José Milhazes, o último líder da URSS tinha, em 1989, dentro do seu país, "criado um regime de liberdade de expressão que hoje ninguém pode sonhar na época de Putin".
"Abriu a transparência - ainda não era bem uma liberdade de expressão -, mas abriu a porta à liberdade de expressão no fim da União Soviética e depois", afirmou.
"Putin está a destruir muita da herança deste homem", acrescentou o comentador.
"Mikhail Gorbachev é um dos co-responsáveis pela atual ordem mundial, que neste momento é contestada pela Rússia. Daí que Gorbachev ficará na história, certamente. Na história da Rússia talvez de forma negativa durante alguns séculos; na do Ocidente, de forma mais positiva", concluiu José Milhazes.
Mikhail Gorbachev, o último presidente da União Soviética (URSS), morreu esta terça-feira aos 91 anos. Segundo a TASS, o político morreu no Hospital Clínico Central de Moscovo, onde se encontrava internado devido a "doença prolongada e grave".
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