"Perdemos a nossa mãe", disse à Lusa José Silva, dono da Tugal Food, uma empresa de comércio de peixe congelado, quando se preparava para distribuir a mercadoria pelos restaurantes da capital britânica.
A rainha Isabel II morreu na quinta-feira aos 96 anos no Castelo de Balmoral, na Escócia, após mais de 70 anos do mais longo reinado da história do Reino Unido.
"Ontem estavam todos tristes. Tínhamos a televisão ligada para ver as notícias. Estava muita gente triste", contou à Lusa Fernanda Pereira, atrás do balcão no café Madeira Próspero, um dos muitos estabelecimentos com nomes portugueses na zona de Stockwell, no sul de Londres.
Umas portas à frente, a dona do café Rose Deli, Rosária, há 35 anos a viver em Londres, confirmava o mesmo cenário: "Foi triste o ambiente. É uma perda, era Rainha há tanto tempo. Não é fácil".
Sentada na esplanada do café Estrela, a tradutora Di Lia, que emigrou para o Reino Unido aos 14 anos e vive em Londres há mais de 40, confidenciava à Lusa que a Rainda "vai deixar saudades" entre os portugueses, que se habituaram a referir-se a ela como "a madrinha".
"Chamam-lhe a madrinha por causa dos benefícios que lhes deu", disse a portuguesa, defendendo que Isabel II "ajudou muito" os emigrantes, incluindo os portugueses, para que tivessem acesso a subsídios sociais.
Para Maria Fernanda Vitorino, que vive em Londres há mais de 30 anos e já tem netos britânicos, a Rainha é admirada pelos portugueses e por outros imigrantes porque promovia uma sociedade diversa, aberta aos cidadãos de várias origens.
Sentadas em mesas adjacente, Di e Maria Fernanda concordam que com Carlos III como Rei "não vai ser a mesma coisa".
Elogiando a integridade e a seriedade de Isabel II, as duas portuguesas são unânimes em dizer que não desejavam "a ninguém" a "vida de prisão" e a pressão a que a Rainha foi sujeita ao longo dos seus 70 anos de reinado.
"Vão ser uns sapatos difíceis de calçar", disse Di, para quem a morte de Isabel II é "o início do fim da monarquia".
"Por enquanto [a monarquia] vai continuar, mas há uma tendência para acabar", concordou Maria Fernanda, citando economistas segundo os quais "a monarquia retira mais do que dá à economia do país".
Já António Ramalho, dono de um café em Stockwell e a viver em Londres há 33 anos, acredita que a morte da Rainha "não muda nada".
"A única coisa que pode mudar são as notas" de libra, que há décadas exibem a imagem de Isabel II.
Sentado à mesa de um café em Stockwell, José Albuquerque, que tem 43 nos e vive em Londres desde os 15, recorda com emoção o dia em que viu a Rainha passar, quando era condutor e andava a passear uns turistas por Londres.
"Fomos parados pelos batedores e vi a Rainha. Foi a única vez que a vi em 27 anos", disse o agora dono do restaurante Three Lions, que acredita que "99% das pessoas em Londres têm um carinho especial" por Isabel II.
Em surdina, admitiu que na quinta-feira lhe "vieram as lágrimas aos olhos" ao saber da morte da monarca, que comparou à perda da sua própria avó.
"É como se fosse uma mãe. É a mãe de todos nós", confessou.
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