De acordo com Ana Paula Zacarias, há a necessidade de se encontrar uma solução para este conflito e, para a diplomata, a saída é só uma e cabe à Rússia: "Retirem as tropas da Ucrânia. Essa seria a solução".
"Se isso tarda em ser feito, teremos que encontrar formas de ir olhando para as consequências deste conflito, que não nos devem tirar o foco de que é um conflito totalmente ilegal, que é contrário à Carta das Nações Unidas, que provocou a morte de milhares de pessoas, que provocou a destruição de um país. É totalmente inaceitável que um vizinho invada outro da forma como aconteceu", frisou a ex-secretária de Estado dos Assuntos Europeus.
Contudo, a diplomata portuguesa salientou que a ofensiva militar russa contra a Ucrânia, ainda em curso e que já completou 200 dias, não pode levar a que outros grandes e graves problemas mundiais sejam esquecidos.
"Agora, também digo que isso não nos deve impedir de continuar a trabalhar sobre as outras grandes questões que estão aqui em causa: as questões do clima, das novas tecnologias, as questões relativas aos direitos humanos, ao género, aos direitos das mulheres, as questões relativas aos direitos LGBT [sigla que significa Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero]", afirmou Ana Paula Zacarias, em declarações à Lusa na missão de Portugal na ONU, em Nova Iorque.
Outra das necessidades elencadas pela embaixadora é a procura de métodos e visões mais integrados para depois serem encontradas "soluções integradas".
"Há um conjunto de problemas que têm que ser vistos de forma holística. (...) o facto de haver, neste momento, este conflito - que está no nosso foco, que é fundamental, - não nos pode deixar de fazer com que não olhemos para o resto do que está à nossa volta", reforçou.
A 77.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, que vai reunir em Nova Iorque chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, terá hoje início sob o tema "Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados", sendo que o primeiro dia do Debate Geral de alto nível -- o momento em que os líderes internacionais se dirigirem ao mundo -- está previsto para 20 de setembro.
"O tema decorre do reconhecimento de que o mundo está num momento crítico na história das Nações Unidas devido a crises complexas e interligadas, incluindo a pandemia de covid-19, a guerra na Ucrânia, desafios humanitários de natureza inédita, um ponto de inflexão nas mudanças climáticas, bem como preocupações crescentes sobre as ameaças à economia global", indicou o presidente da Assembleia-Geral da ONU cessante, Abdulla Shahid (que será substituído no cargo pelo diplomata húngaro Csaba Korosi), na carta em que anunciou o tema da sessão deste ano.
Segundo Ana Paula Zacarias, Portugal está "completamente de acordo" com a ideia de que o mundo está num momento de viragem e de que precisa de encontrar soluções transformadoras para estes desafios interligados.
"Hoje enfrentamos uma crise climática. Temos problemas relacionados com este conflito da Ucrânia, temos questões ligadas à segurança alimentar, questões de crise energética, aspetos relativos ao financiamento, ao desenvolvimento. E, portanto, temos que ter uma visão holística, uma visão de conjunto", disse.
"A única organização que, neste momento, nos pode dar essa visão de conjunto são as Nações Unidas e, portanto, Portugal continuará a defender de forma veemente o multilateralismo e a necessidade de encontrarmos respostas aqui, ao nível da ONU e de todas as suas agências. Só em conjunto poderemos ter essa visão que nos permite tratar de questões relativas a conflitos, alterações climáticas, novas tecnologias e aos desafios que elas colocam, questões relativas à juventude, ao envelhecimento e à demografia. As Nações Unidas podem seguramente ajudar-nos a encontrar essas respostas", avaliou.
Entre os problemas mais urgentes e que merecem uma unidade global estão, segundo Ana Paula Zacarias, as recentes e graves inundações no Paquistão - onde um terço do território está debaixo de água -, a questão da segurança alimentar, particularmente em África, e a evolução do terrorismo em alguns territórios africanos.
Leia Também: Portugal aproveitará para preparar candidatura ao Conselho de Segurança