"O principal problema é, sem dúvida, a habitação. Temos casos de pessoas completamente postas na rua, não por não pagarem, mas porque os proprietários querem as casas. Outros, porque não conseguem pagar", disse à agência Lusa José Ricardo Martins.
O problema afeta tanto cidadãos nacionais como estrangeiros na cidade freguesia do concelho de Almada onde já existem cerca de 60 nacionalidades.
Com a renda de um apartamento com um quarto a absorver um salário mínimo, a população procura diretamente ajuda na Junta de Freguesia, seja para custear a habitação ou outros gastos associados (água, luz, gás), mas também alimentação e despesas escolares.
"A principal carência que noto, não só para estrangeiros, mas também para portugueses tem a ver com o problema que acho que é a maior chaga social do país, com a habitação e com os preços exageradamente altos, até obscenos, a nível de arrendamento", declarou o autarca.
Há nove anos no cargo e a cumprir o último mandato, Ricardo Martins assistiu às dificuldades que a população passou durante a intervenção da troika em Portugal e ao impacto da pandemia de covid-19, que levou a autarquia a ter de dar resposta aos pedidos de ajuda a que o Banco Alimentar já não conseguia atender: "Costumo perguntar que mais me irá acontecer!".
Perante a crise inflacionista o autarca considera que "a grande dificuldade" do momento é a habitação. A solução, preconiza, passa por construir habitação pública, o que leva tempo. Acresce que na zona da Costa, grande parte do terreno é propriedade privada ou área de reserva.
O problema não é exclusivo da freguesia, mas dando como exemplo o concelho de Almada, Ricardo Martins referiu que milhares de pessoas aguardam a oportunidade de conseguir casa através de um programa municipal: "Existe no Habit´Almada uma enormidade de famílias, que têm repercussão aqui na Costa. Inscrições à espera de casa, se calhar estamos a falar de 7.000 pessoas".
A Junta de Freguesia tem no Centro Paroquial o principal parceiro. "Tenho muito orgulho em ter um centro paroquial tão musculado", sublinhou.
O autarca teme que os casos a que está a dar resposta em articulação com a igreja e outros parceiros possam refletir o que vai ser o ano de 2023. "Se esta escalada a nível energético e de inflação continuar, obviamente que vamos ter problemas semelhantes aos que tivemos durante a pandemia", estimou, indicando que neste período foram apoiadas 7.162 pessoas, no âmbito da Comissão Social criada em 2016 com diversas entidades parceiras.
"Apesar de ter aqui alguma almofada, embora não tanto como necessária, no aumento dos ordenados...não vai chegar para as pessoas poderem fazer a sua vida normal, mesmo que tenham de abdicar daquilo que não é tão essencial", considerou.
A Caparica tem perto de 14.000 eleitores e cerca de 20.000 habitantes no inverno. Todos os dias chegam novos habitantes das mais diversas proveniências à procura de um atestado de residência, do Brasil ao Reino Unido, passando pela Ucrânia, Paquistão, Bangladesh ou Nepal.
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