Dois cirurgiões do Hospital Fernando Fonseca, conhecido também por Amadora-Sintra, denunciaram mais de duas dezenas de "mortes e mutilações" alegadamente por má prática da equipa cirúrgica, revela o Expresso, esta sexta-feira.
Os casos, que incidiam sobre 17 doentes, remontam ao ano passado e foram comunicados à direção clínica da unidade hospitalar no início de outubro. No final de novembro, surgiram mais cinco.
Em dezembro, as denúncias chegaram também à Ordem dos Médicos e, segundo o mesmo semanário, esta nomeou peritos independentes para investigar as mesmas.
No documento enviado à Ordem, citado pelo Expresso, um dos cirurgiões escreve que "existem situações de prejuízo de vida e qualidade de vida graves, com mortalidade e mutilações desnecessárias, evitáveis, que resultam de uma prestação de cuidados ao doente cirúrgico".
Na mesmo e-mail, o médico afiança ainda que "a denúncia não se centra num médico em particular, mas sim numa situação sistémica".
Já outro cirurgião, ao Amadora-Sintra, garante que existem "muitos outros" casos, embora de "gravidade significativamente menor, com doentes 'perdidos' no serviço (de cirurgia geral), avaliados por jovens médicos voluntariosos, mas inexperientes, que, embora estejam a dar o seu melhor, pouco ou nada são corrigidos ou orientados".
Para este médico, a mortalidade registada no bloco operatório do Hospital Fernando da Fonseca tem de ser vista como "consequência das opções de quem assume e define a estratégia em cada momento" e é essa que deve ser "questionada e reformulada".
Revela ainda o Expresso que, num dos casos descritos, um paciente com cerca de 60 anos, operado ao baço sem ter indicação para cirurgia programada, morreu "exsanguinado, com perto de 15 transfusões". Já outro doente, com a mesma idade, foi operado ao pâncreas por suspeitas de um tumor que não existia, o que lhe trouxe um "internamento prolongado, com complicações e nova cirurgia".
Aliás, de acordo com o jornal, são vários os casos de doentes que foram submetidos a cirurgia oncológica que, afinal, não tinham cancro. Um terá mesmo feito radioterapia, sem ter nenhum tumor.
A administração do Amadora-Sintra confirma que recebeu uma denúncia de alegadas más práticas no Serviço de Cirurgia Geral e garante que, “de imediato, deliberou a abertura de um processo de inquérito para o apuramento dos factos e eventuais responsabilidades”, assim como comunicou o caso à Ordem dos Médicos e à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
A Ordem dos Médicos ainda não reagiu, mas o IGAS abriu um processo de natureza disciplinar para apurar os factos e aguarda resultados das investigações. Até agora, segundo o Expresso, o inquérito preliminar aos primeiros 10 casos revela que "não houve violação da 'legis artis' [conjunto de regras e princípios profissionais médicos]".
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