Numa carta dirigida à procuradora-geral da República, datada de terça-feira e a que a Lusa teve hoje acesso, o presidente da associação pede que "sejam tomadas as medidas adequadas para que os cidadãos ucranianos possam ter direito a uma tradução fidedigna das suas declarações, designadamente, com recurso a cidadãos ucranianos como tradutores".
Em causa, explica Pavlo Sadokha, está o facto de estarem a ser nomeados cidadãos russos para traduzirem atos e diligências envolvendo ucranianos, cidadãos esses que, "pelos comentários dos (...) envolvidos, têm uma posição política favorável à invasão e agressão da Federação Russa à Ucrânia".
Além disso, o dirigente da associação alerta que "existem diferenças sensíveis" entre a língua russa e a língua ucraniana, o que pode resultar numa alteração do sentido e do conteúdo da declaração.
Na carta, Sadokha cita o exemplo de um cidadão ucraniano cujas declarações em tribunal foram traduzidas com erros e desvirtuações por uma tradutora russófona, admitindo a possibilidade de uma "tradução propositadamente errada para prejudicar o inquirido".
Refere ainda uma tradutora russa que na rede social Facebook "demonstra abertamente a sua simpatia com a agressão da Federação Russa à Ucrânia e a sua preferência política pró-Putin".
"Seguramente, neste circunstancialismo, não pode nem deve ser nomeada como tradutora em atos e diligências policiais e judiciais em que intervenham cidadão Ucranianos", alerta.
Para a associação, a possibilidade de uma acusação pública assentar em traduções propositadamente manipuladas configura "enorme gravidade"
A ofensiva militar lançada pela Rússia contra a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 causou, até agora, a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,9 milhões para países europeus --, de acordo com os mais recentes dados das Nações Unidas.
As Nações Unidas consideram confirmados 6.952 civis mortos e 11.144 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
Portugal já atribuiu mais de 57.000 proteções temporárias a pessoas que fugiram da guerra na Ucrânia e cerca de um quarto foram concedidas a menores, segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
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