Américo Aguiar, bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa, anunciou que a diocese de Lisboa se pronunciará amanhã, dia 10, sobre as medidas a aplicar após ter recebido a lista de nomes de padres suspeitos de abuso sexual de menores. "Hoje vamos ter a reunião da Comissão Diocesana", a quem o "senhor patriarca entregou a lista de Lisboa", revelou esta quinta-feira aos jornalistas.
"Vai reunir-se para propor as medidas que acha que devem ser aplicadas", prosseguiu Américo Aguiar, lembrando que "estamos a assistir, no ritmo de cada diocese, às decisões", referindo-se ao Funchal, Évora e Angra, que já afastaram os alegados padres abusadores.
"No que diz respeito a Lisboa, nos próximos dias a Comissão recomendará o que deve fazer o Patriarca quanto a cada uma pessoas", vincou.
"Se a Comissão [diocesana] disser que as pessoas A, B ou C devem ser afastadas do exercidos público do Ministério, elas serão", afirmou ainda, frisando que o termo se difere de uma suspensão.
Lembrando "estamos num estado de direito", o bispo afastou "juízos e decisões que não respeitem todas as regras". "O respeito pelas vítimas também é fazer tudo direitinho".
Agora é momento da justiça, verdade e ação
Compreende "que portugueses se possam sentir baralhados"
Questionado sobre as declarações do bispo de Beja, que sugeriu "perdão" para os padres abusadores, Américo Aguiar disse que compreende "que os portugueses se possam sentir baralhados com pronunciamentos que possam não vir ao encontro daquilo que é a expectativa das pessoas".
"O tema hoje não é a reflexão sobre o perdão e a misericórdia a um pecador ou criminoso, é para refletirmos o essencial: demos um ano e tal para dar voz ao silêncio, que terminou. Agora é momento da justiça, verdade e ação", asseverou.
Américo Aguiar defendeu também, na mesma ocasião, a eventualidade de um pagamento de indemnizações às vítimas. "Defendo que se a pessoa condenada não tiver condições para cumprir a indemnização a que foi condenado, que a Igreja o deve suprir", afirmou ainda Américo Aguiar, quando confrontado sobre as polémicas declarações de D. Manuel Clemente - que não defende a compensação por parte da Igreja.
Por outro lado, "se ficou claro, evidente, sem dúvidas para ninguém, que, da parte da igreja, nesse processo, houve encobrimento, colaboração ou assobiar para o lado", também nesse caso Américo Aguiar defende a indemnização por parte da instituição.
O bispo auxiliar de Lisboa disse, por fim, não estar preocupado com as possíveis consequências da lista entregue em Lisboa, uma vez que o mal maior, o abuso, já está perpetrado.
"Nada se compara ao sofrimento dos jovens", afirmou, frisando que as dioceses não podem não agir perante cada lista de nomes recebida, mas que, ainda assim, cabe a cada uma delas decidir as consequências a aplicar a cada suspeito.
De recordar que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão. No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'" deste fenómeno.
A comissão entregou à Conferência Episcopal Portuguesa uma lista de alegados abusadores, alguns no ativo, tendo esta remetido para as dioceses a decisão de afastamento de padres suspeitos de abusos e rejeitado atribuir indemnizações às vítimas.
[Notícia atualizada às 16h12]
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