O antigo Presidente da República, António Ramalho Eanes, manifestou-se “desgostoso enquanto militar e enquanto cidadão”, devido ao caso de 13 militares que se recusaram a embarcar no NRP (Navio da República Portuguesa) Mondego por razões de segurança.
“Devo dizer que tudo isto me desgostou profundamente enquanto militar e enquanto cidadão”, disse Ramalho Eanes, em declarações à RTP3, acrescentando, contudo, que não vai “substituir quem no Estado tem a responsabilidade de comentar a questão”.
O antigo Presidente da República falava aos jornalistas, no final de uma cerimónia de homenagem que a Câmara de Castelo Branco lhe prestou, hoje, no âmbito das comemorações do 252º aniversário da cidade, com a atribuição do seu nome a uma avenida da cidade.
"Eu disse que quando recusei a promoção a marechal foi porque entendia que não devia ser um elemento de perturbação das Forças Armadas. Não vou, naturalmente, ultrapassar isso, para não dizer nada sobre aquela questão. Entendo que a instituição militar, a ministra da Defesa e o Presidente da República deverão saber resolver [o problema] de uma forma capaz", salientou.
De recordar que o NRP (Navio da República Portuguesa) Mondego não cumpriu a 4 de março uma missão de acompanhamento de um navio russo a norte da ilha do Porto Santo, na Madeira, porque 13 dos militares da guarnição (quatro sargentos e nove praças) se recusaram embarcar por razões de segurança.
Entre as várias limitações técnicas invocadas pelos militares para se recusarem a embarcar no navio constava o facto de um motor e um gerador de energia elétrica estarem inoperacionais.
A Marinha confirmou que o NRP Mondego estava com "uma avaria num dos motores", mas referiu que os navios de guerra "podem operar em modo bastante degradado sem impacto na segurança", uma vez que têm "sistemas muito complexos e muito redundantes".
Ramalho Eanes sublinhou ainda que ficou sensibilizado com a homenagem que lhe foi feita pela Câmara de Castelo Branco.
"Sensibiliza-me muito esta ideia da avenida com o meu nome. Eu sinto-me tão alcainense como albicastrense, por razões que se prendem com a minha infância e da minha vida adulta", referiu.
Questionado sobre o estado do país, 50 anos após o 25 de Abril de 1974, o antigo chefe de Estado disse que Portugal "melhorou de uma maneira extremamente interessante".
"O país hoje não tem nada a ver com o Portugal que era antes do 25 de Abril. Os fundos europeus permitiram que nós realizássemos milagres. Um dos milagres é termos um Estado social igual aos estados sociais europeus", sustentou.
Contudo, Ramalho Eanes entende que, posteriormente, "não fizemos aquilo que era indispensável: definir um projeto de vida em comum, que fizesse com que todos se sentissem unidos no trabalho para chegar a um objetivo".
No âmbito das comemorações do 252º aniversário da elevação de Castelo Branco a cidade, o antigo chefe de Estado foi homenageado, numa sessão na Câmara Municipal. Seguiu-se a inauguração da Avenida General António Ramalho Eanes, em Castelo Branco.
António Ramalho Eanes nasceu em Alcains (vila do concelho de Castelo Branco) e mudou-se, com menos de três anos, com os pais, para Castelo Branco. Foi na cidade albicastrense que viveu e estudou até ir para Lisboa, para frequentar a antiga Academia do Exército.
António Ramalho Eanes foi eleito Presidente da República em junho de 1976 e em dezembro de 1980.
Afastado da vida política ativa, Ramalho Eanes continua, enquanto elemento da sociedade civil, a intervir em assuntos que considera de relevância, especialmente cívica e cultural, nomeadamente através da sua participação em congressos e conferências sobre diversos temas (culturais, políticos, sociais e sociológicos, geopolíticos e geoestratégicos), em fóruns especializados, autarquias e universidades, entre outros, em Portugal e no estrangeiro.
Em 2000, rejeitou a promoção a marechal.
Atualmente, é, por inerência (como todos os Presidentes, que tenham já cumprido os seus mandatos e tenham sido eleitos na vigência da atual Constituição), conselheiro de Estado vitalício.
[Notícia atualizada às 18h57]
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