"O momento é de pesar e solidariedade com as vítimas deste ataque hediondo", lê-se no voto aprovado por unanimidade na reunião pública da câmara e subscrito por todos os vereadores do executivo municipal, nomeadamente a liderança PSD/CDS-PP, PS, PCP, BE, Livre e Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre).
Em causa está o ataque que ocorreu na terça-feira, pelas 11:00, no Centro Ismaili, em Lisboa, realizado por "um homem armado com uma faca de grandes dimensões", que provocou duas vítimas mortais, acabando por ser detido pela polícia e conduzido ao hospital por ter ficado ferido, de acordo com a Polícia de Segurança Pública (PSP).
Ainda na terça-feira, fonte policial indicou à agência Lusa que o presumível autor do ataque é de nacionalidade afegã, enquanto as duas mulheres mortas são de nacionalidade portuguesa.
Logo nesse dia, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD) deslocou-se ao Centro Ismaili para transmitir solidariedade às famílias das vítimas e salientou a importância desta comunidade para a cidade.
No voto de pesar e solidariedade, a câmara refere que o ataque "vitimou fatalmente duas mulheres e deixou uma terceira pessoa ferida em estado grave", acrescentando que as investigações sobre o contexto e as motivações do sucedido deverão desenvolver-se "em toda a sua plenitude pelas autoridades competentes".
"Na sequência deste trágico incidente, faleceram Farana Sadrudin, de 49 anos, e Mariana Jadaugy, de 24 anos, que se encontravam no local a trabalhar. Ambas tiveram parte do seu tempo dedicado à entreajuda e ao trabalho colaborativo em prol do desenvolvimento pessoal e da inclusão social", é indicado no voto, realçando-se a contribuição que as vítimas tiveram para a consecução do direito das pessoas em situação de refúgio e vulnerabilidade económica.
Face ao "ataque hediondo", a Câmara de Lisboa condena o ato e solidariza-se com os familiares e amigos das vítimas, assim como com o Centro Ismaili, salientando a excelência da PSP pela rápida e eficaz intervenção.
No voto, o executivo municipal sublinha que o Centro Ismaili desenvolve um trabalho social exemplar, na capital portuguesa e no mundo, sendo "um dos grandes símbolos da identidade de Lisboa, por todo o trabalho que desenvolve há muitos anos, que a cidade reconhece, elogia e agradece".
"Ainda estão por apurar as razões deste ataque, mas o momento, agora, não é da 'justiça em praça pública', como nunca deve ser. O momento é da justiça, que terá de ser feita num local próprio, conforme se rege um Estado de direito democrático", reforça.
No documento aprovado, a câmara frisa que "Lisboa é e sempre será uma cidade aberta, da diversidade e da inclusão", que tem orgulho nesta marca e "todos os dias batalha para que esta imagem, que é o seu ADN desde sempre, não seja menorizado ou afetado".
"Não podem ser confundidos atos isolados, com imagens estereotipadas que a xenofobia e o racismo tentam criar. A realidade demonstra o óbvio. Portugal em geral, e Lisboa em particular, tem muitos refugiados, que são pessoas humildes, pacatas e procuram encontrar no nosso território a dignidade e o respeito que, infelizmente, não podem contar nas suas terras de origem", realça o executivo municipal, considerando que os refugiados que vivem em Portugal integram-se e relacionam-se bem na sociedade em que se inserem.
Manifestando a consciência de que o "episódio não deixará de ser explorado por quem alimenta o populismo, a intolerância e a discriminação", a Câmara de Lisboa reafirma o compromisso com o trabalho em rede, solidário e inclusivo, pugnando pela coesão social e pelo apoio às pessoas em situação de maior fragilidade.
"O acolhimento de refugiados é e será, sempre, uma causa da cidade", frisa.
O diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, afirmou hoje que "não há um único indício" de que o ataque de terça-feira no Centro Ismaili tenha sido um ato terrorista, admitindo ter resultado de "um surto psicótico do agressor".
Leia Também: MP está com processo dos filhos do agressor no Centro Ismaili