As últimas horas ficaram marcadas - em Portugal, e no mundo - pela detenção de Jack Teixeira, o lusodescendente suspeito de ter divulgado documentos classificados dos Estados Unidos, entre os quais estavam informações sobre a Ucrânia, e, numa segunda etapa, dados relativos a outros países.
Em declarações à CNN Portugal, o major-general Agostinho Costa considera que não lhe "parece que seja possível" que o jovem, de 21 anos, e que trabalha numa base militar, conseguisse ter sozinho acesso a este tipo de documentos. "A não ser que o estado da intelligence [serviços secretos] americana esteja tão mal que uma situação destas ocorra", rematou.
O comentador explicou ainda que há, principalmente, três motivos que o fazem acreditar que o lusodescendente, que não tem nacionalidade portuguesa, não tenha conseguido aceder a informação. "Primeiro, por questão de credenciação. Para se ter acesso a este tipo de informação, tem de se ter uma credenciação de segurança que segue um processo moroso. Nós também o temos", lembrou, apontando que para além de Teixeira ser jovem, é também um piloto, e não um especialista em informações. "É muito pouco provável que uma pessoa com este perfil tenha acesso a informação 'top secret'. Estamos a falar em informação 'top secret'".
Questionado sobre a possibilidade de o jovem ser o culpado, o major-general foi assertivo: "Não nos parece". Continuando a justificar por que motivo acha que o lusodescente não é, pelo menos, o único culpado nesta situação, o oficial referiu que a informação que este alegadamente revelou em nada tem a ver com o seu posto. "Qual é a mais valia que a Guarda Nacional do Massachusetts pode dar à Ucrânia? Zero. Qual a necessidade desta guarda em ter acesso a informação das operações na Ucrânia?", questionou.
Por último, o major apontou que a questão não envolve um 'hacker'. "Isto são os chamados 'hard copies' - fotografias tiradas de telemóvel. Como é que um telemóvel entra num ambiente reservado?", voltou a questionar, recordando que nos ambientes em que existe este tipo de informação não é permitida a coexistência com dispositivos eletrónicos [pessoais] e onde para além de o tempo ser cronometrado, não entra "qualquer pessoa". "O que nos parece é que estamos perante uma história mal contada", rematou.
Não quero descredibilizar o FBI, mas não deixa de ser estranho que passado um ano temos um caso também com um português. Parece pouco verosímil
Sublinhando que o FBI, responsável pela detenção de Teixeira é "uma força de altíssima qualidade", o major-general recorda o jovem responsável pelo ataque à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que, à semelhança da pessoa responsável pela fuga dos documentos norte-americanos, também utilizou a plataforma Discord para falar sobre os seus planos.
"Depois vimos que era um jovem que, efetivamente, precisava de ajuda. Não quero descredibilizar o FBI, mas não deixa de ser estranho que passado um ano temos um caso também com um português. Parece pouco verosímil", concluiu, rematando que, se Teixeira é o facto o responsável pela fuga destes documentos, a situação revelaria "uma quebra de segurança absolutamente inaceitável".
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