"Todas sabemos quem assedia quem nos diferentes contextos académicos"
A ex-deputada não inscrita, que entrou na Assembleia da República pelo partido Livre, e que mais tarde se desvinculou, partilhou a sua opinião sobre a polémica que envolve Boaventura Sousa Santos, que foi acusado de assédio sexual.
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Política Joacine Katar Moreira
A antiga deputada Joacine Katar Moreira recorreu às redes sociais para comentar as denúncias dos casos de assédio no Centro de Estudos Sociais (CES) de Coimbra, assim como no âmbito da academia em Portugal.
"Todas sabemos que a dominação institucional masculina na academia é um entrave a muitas das mudanças a induzir, pois esta produz naturalmente desigualdade e desequilíbrios vários que impedem o meio académico de ser um espaço de conhecimento e transformação de pessoas e sociedades que poderia ser", escreveu a ex-deputada não inscrita no Facebook, acrescentando que, "muito pelo contrário, o ambiente "académico corrói, é tóxico, deprime e esgota milhares de pessoas todos os dias porque as suas lógicas são coloniais, hierárquicas, elitistas e misóginas".
Referindo que o meio académico é pequeno e que "a vida também anda para trás", na eventualidade de uma pessoa não "cair nas graças", referindo-se à inexistência de oportunidades que permitam uma pessoa desse mesmo meio progredir na carreira. "E é por medo, sim, mas sobretudo pelo ambiente de impunidade que muitas pessoas se calam sobre aquilo que deveria ser denunciado", sublinha.
"Todas sabemos quem assedia quem nos diferentes contextos académicos e institucionais em Portugal. Porque estes indivíduos nem sequer o escondem muito", acusa aquela que foi a primeira deputada eleita pelo Livre. "Todas sabemos porque todas falamos sobre o tema e a maioria de nós sentiu e sente na pele o poder e a impunidade de que gozam os 'stars professores' e outros que nem star são, mas dirigem, orientam e avaliam mulheres todos os dias. Desde a licenciatura ao pós-doutoramento e como investigadoras, quando cessa mesmo o assédio, perseguição, abuso de poder e violência a uma mulher na academia?", questionou.
Katar Moreira recorda na sua publicação um momento em que se dirigiu ao CES, em 2018, instituição que está agora debaixo de fogo, devido às acusações de assédio sexual que o Boaventura de Sousa Santos é alvo. O professor catedrático já negou, entretanto, estas acusações.
"Boaventura Sousa Santos, assim como muitos outros, orientou e 'abriu portas' a muita gente, ajudou-os/as a ocupar lugares, recomendou e promoveu pessoas ao longo do seu também longo percurso. Não é um monstro. Não, mas é um homem com muito poder e com uma rede forte que intimida qualquer pessoa que se oponha publicamente a ele. E sobretudo que o acuse", nota, defendendo que a carta aberta publicada pelo docente, não só intimida quem o acusou, como também quem o poderá vir a fazer.
"Em Portugal, sempre que um homem foi acusado de assédio por uma ou várias mulheres, foram sempre muitas as mulheres a levantarem-se, defendendo-os com unhas e dentes e relativizando a dor e a denúncia de outras", defendeu Katar Moreira.
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