Abusos na Igreja. Grupo VITA vai durar 3 anos e criar manual de prevenção
A criação do Grupo VITA surge na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica. A constituição deste grupo vai ser articulada com o seio da Igreja e estará em funções durante três anos. Está ainda prevista a criação de um manual de prevenção.
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País Abusos na Igreja
O presidente da Conferência Episcopal Portugal (CEP), José Ornelas, apresentou o novo grupo de acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal, denominado Grupo VITA, que tem a missão de "acompanhar e prevenir as situações de abuso sexual", após as conclusões da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
"A comissão surge na sequência do que foi antes realizado, a começar com a constituição da comissão independente, que surge com o caminho da Igreja em todo o mundo sobre abusos sexuais", começou por dizer José Ornelas, no início da apresentação, em Lisboa.
O bispo de Leiria-Fátima afirma que é "necessário organizar" um grupo com "competências suficientes" para tratar deste assunto, uma vez que as conclusões do relatório da Comissão Independente "causaram muito impacto".
"A começar por nós e por conhecer realidade dramática que constituem estes abusos que causaram no ponto de vista das vítimas. A nossa primeira preocupação era saber quem são e a [sua] realidade. Saber como aconteceu e quais os caminhos que se impõem para tratar bem os casos que venham a acontecer, mas sobretudo prever, formar e criar competências dentro da igreja para que possamos ter o mais possível uma atitude que nos leve a prevenir e a tratar esta questão", afirmou.
A constituição deste grupo vai ser articulada com o seio da Igreja e estará em funções durante três anos. Está ainda prevista a criação de um manual de prevenção.
Ornelas avança que terá "as suas próprias competências definidas", mas ao mesmo não irá funcionar como a Comissão Independente.
"Este é um grupo virado para ter uma vertente operativa dentro da igreja, por isso, precisa de ter um acolhimento autónomo e definido perante as vítimas e perante a sociedade", assim como tem de "articular-se dentro da igreja de forma eficiente para acompanhar as vítimas e tratar convenientemente a situação", salienta o bispo.
José Ornelas agradeceu ainda aos membros do Grupo VITA pela "disponibilidade" mostrada, por colocar "dar capacidade de ação ao projeto que temos para a Igreja", salientando que se está a entrar numa nova fase.
Com a primeira fase da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, destacou, "ficou clara a nossa determinação de não fechar os olhos diante desta realidade, procurar conhecê-la o melhor possível, com tolerância zero - que significa compromisso de tornar possível que isso aconteça".
"Não é simplesmente ter em conta o mal que já aconteceu, é tratar as sequelas desse mal e, sobretudo, prevenir para que isto não volte a acontecer. Temos já uma base sólida nas comissões diocesanas e na coordenação nacional. Este grupo vai dotar-nos de uma competência e uma capacidade operacional que faz falta neste campo e que nós queremos que tenha a nossa colaboração para resolver este problema, que não é exclusivo da Igreja, é de toda a sociedade", ressalvou.
O Grupo VITA, que será liderado por Rute Agulhas (especialista em Psicologia Clínica e da Saúde com especialidades avançadas em Psicoterapia e Psicologia da Justiça), é constituído ainda por Alexandra Anciães (psicóloga, experiência de avaliação e intervenção com vítimas adultas), Joana Alexandre (psicóloga, docente universitária e investigadora na área da prevenção primária dos abusos sexuais), Jorge Neo Costa (assistente social, intervenção com crianças e jovens em perigo), Márcia Mota (psiquiatra, especialista em Sexologia Clínica e intervenção com vítimas e agressores sexuais) e Ricardo Barroso (psicólogo, docente universitário e especialista em intervenção com agressores sexuais).
Haverá ainda um grupo consultivo, com a participação do padre João Vergamota (especialista em Direito Canónico) e Helena Carvalho (docente universitária especialista em análise estatística). Será ainda integrado um advogado/jurista, especialista em crimes de natureza sexual, cujo nome não foi definido.
Recorde-se que a criação do Grupo VITA surge na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que, ao longo de quase um ano, validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.
Como consequência, algumas dioceses decidiram afastar cautelarmente do ministério alguns padres, enquanto decorrem os respetivos processos.
[Notícia atualizada às 15h27]
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