António Costa falou aos jornalistas pela primeira vez após o 'ralhete' de ontem à noite do Presidente da República e disse que Marcelo Rebelo de Sousa confirmou "o que já sabíamos: temos uma divergência quanto à responsabilidade de um conjunto de eventos deploráveis".
"Não se justifica dramatizarmos", afirmou o primeiro-ministro à saída do Picadeiro Real, em Belém, após a cerimónia de entrega do Prémio Camões à escritora moçambicana Paula Chiziane. Esta divergência, asseverou, foi uma "excepção rara" em sete anos e dois meses de relacionamento.
"Em sete anos e dois meses de relacionamento foi uma exceção naquilo que o próprio Presidente da República designou como uma relação marcada pela capacidade de acertarmos agulhas. Por isso, não se justifica dramatizar que em sete anos e dois meses tenha havido um momento onde as agulhas não ficaram acertadas", sustentou.
Recordando as palavras de Marcelo e a "capacidade" de Presidente e primeiro-ministro acertarem "agulhas", Costa apontou também para o futuro, onde há, vincou "total convergência".
"O que mais importa é manter uma boa cooperação entre os órgãos de soberania para garantir a estabilidade e permitir que se prossiga uma ação que permita que as melhorias da economia se traduzam na melhoria da situação de vida dos portugueses", frisou.
Questionado, Costa disse-se "nada incomodado" com a vigilância ativa" de Marcelo - promessa feita ontem pelo Presidente da República.
Ainda sobre o recado de Marcelo, o primeiro-ministro salientou que ambos partilham "uma preocupação: que a melhoria se vá traduzindo no dia a dia dos portugueses" e 'puxou dos galões' em temas como a economia, o cabaz alimentar e a inflação.
"No mês passado, pagámos a primeira prestação do apoio extraordinário às famílias mais carenciadas. Neste mês, as famílias que têm crédito à habitação terão já juros bonificados, quando estiverem acima da sua taxa de esforço, e vai ser pago também o primeiro mês de apoio às rendas para as famílias que estão com uma elevada taxa de esforço no acesso à habitação", disse.
António Costa sinalizou depois que em julho "a melhoria da economia traduzir-se-á num aumento intercalar das pensões". "Neste mês já se verificará também uma tradução no aumento intercalar do vencimento dos funcionários públicos com retroativos a janeiro", acrescentou.
Ou seja, de acordo com o primeiro-ministro, "quanto ao fundo e quanto à essência" Governo e Presidente da República "estão totalmente convergentes". "A divergência é normal entre titulares de dois órgãos de soberania que, como o senhor Presidente da República explicitou, vimos de hemisférios distintos. É uma divergência, pronto, aconteceu, não vale a pena dramatizar", reforçou.
Galamba? Ministros medem-se "pelos resultados"
Indagado sobre a autoridade do ministro das Infraestruturas, João Galamba, Costa afirmou que os ministros "se medem pelos resultados" e exemplificou com o acordo assinado esta quinta-feira para acabar com as greves na CP.
"Ainda na quinta-feira o ministro das Infraestruturas teve ocasião de lograr um acordo que pôs termo a uma greve na CP, - uma greve que já se arrastava há bastante tempo, prejudicando a vida do dia a dia dos portugueses", disse.
Já sobre a polémica com o adjunto no Ministério das Infraestruturas, Frederico Pinheiro, atirou que "não vale a pena revisitar a história". "Quando o ministro das Infraestruturas entendeu que esse seu colaborador [Frederico Pinheiro] não merecia a sua confiança procedeu à sua demissão. Tudo o que aconteceu a seguir foi consequência dessa demissão. Portanto, não invertamos a história", declarou o primeiro-ministro.
Recorde-se que na sua comunicação ao país, feita esta quinta feira à noite, o Presidente da República afirmou não desejar usar os poderes que a Constituição lhe confere para interromper a governação, mas frisou que não abdica deles.
O chefe de Estado qualificou ainda a sua discordância em relação à decisão do primeiro-ministro de manter João Galamba como ministro das Infraestruturas como uma "divergência de fundo" e considerou que essa decisão de António Costa tem efeitos "na credibilidade, na confiabilidade, na autoridade do ministro, do Governo e do Estado".
[Notícia atualizada às 20h55]
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