De acordo com um despacho do Departamento de Investigação e Ação Penal Regional do Porto, a que a agência Lusa teve acesso, são descritos vários momentos em que Patrocínio Azevedo estaria a "tratar" ou a "resolver" questões relacionadas com um parecer negativo ao projeto imobiliário Riverside, da empresa Fortera.
É descrita pelo advogado de Patrocínio Azevedo, João Lopes, uma "mensagem do vice: a CCDR-N [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte] deu um parecer negativo por causa da Metro. Estou a tratar".
Em causa estava um Pedido de Informação Prévia (PIP) para o empreendimento da Fortera na zona do Candal, que será abrangida pela Linha Rubi, cujo viaduto entre a Arrábida e o Candal, em Gaia, será ampliado para acomodar a passagem do metro, de acordo com os documentos do projeto consultados pela Lusa.
Segundo o MP, o empresário Paulo Malafaia entregou ao advogado João Lopes, uma bolsa com 99.600 euros "para entrega a Patrocínio Azevedo, como contrapartida da garantia da manutenção da capacidade construtiva do Riverside a aprovação do PIP e a influência exercida junto da Metro do Porto para obtenção de uma solução para o trajeto da linha" Rubi que não prejudicasse a capacidade construtiva daquele empreendimento.
Questionada hoje pela Lusa, fonte oficial da Metro do Porto afirmou que o parecer negativo nunca foi alterado e que o traçado da linha Rubi também não.
No dia 18 de junho de 2021, segundo o MP, "em virtude do parecer da Metro do Porto, que determinou a emissão de parecer negativo da CCDR-N, João Lopes assegurou a Hélder Agostinho [arquiteto, alegado intermediário da Fortera] que 'o Vice [Patrocínio Azevedo] está comprometido com isto'" e "pessoalmente a resolver".
O MP afirma que, entre junho e setembro de 2021, "Patrocínio Azevedo acompanhou o andamento do PIP com vista a que o mesmo fosse aprovado de acordo com as pretensões de Paulo Malafaia [empresário] e Elad Dror [fundador da Fortera], encetando também influência junto da Metro do Porto com vista a garantir aquele desiderato".
Em agosto de 2021, Patrocínio Azevedo reuniu-se com Tiago Braga "na sede de campanha do Partido Socialista em Vila Nova de Gaia, para abordar a questão da passagem da linha do metro na Quinta de Santo António", no Candal, segundo o MP.
Em outubro terá havido nova reunião na Metro, mas, "em virtude da situação da linha do Metro do Porto não estar ainda definitivamente definida, a tramitação do PIP ficou suspensa".
Ainda em outubro, uma outra reunião na Casa da Presidência de Gaia, segundo o MP, terá tido o objetivo de "arranjar uma solução para o Riverside e não ter de estar à espera do metro".
Depois de um período de "indefinição originada pela inexistência de um projeto definitivo da nova linha do metro", segundo o MP, Paulo Malafaia e Elad Dror "continuaram a pedir a Patrocínio Azevedo, também com intermediação de João Lopes, a sua intervenção para a resolução efetiva de todo o projeto e para a resolução do impasse ocasionado pela criação da nova linha do metro, exercendo influência junto da Metro do Porto".
Assim, Patrocínio Azevedo pediu nova reunião com Tiago Braga em janeiro de 2022, remetendo também, no mês seguinte, um documento digital ao presidente da Metro com algo para compatibilizar, refere o MP.
Os procuradores referem ainda que Elad Dror e Hélder Agostinho "continuaram a pedir a Patrocínio Azevedo" para continuar a "exercer influência junto da Metro do Porto", entre março e junho de 2022.
"No dia 14 de junho de 2022, Patrocínio Azevedo instou Tiago Braga sobre a necessidade de arranjar uma solução urbanística que não prejudicasse a capacidade construtiva do Riverside", alega o MP.
No âmbito da Operação Babel foram detidos, na terça-feira, Patrocínio Azevedo, o seu advogado João Lopes, os empresários Elad Dror (diretor-executivo e fundador do grupo Fortera) e Paulo Malafaia (já tinha sido detido na Operação Vórtex).
Foram também detidos dois funcionários da Câmara do Porto, um deles chefe de uma divisão da área urbanística e outro com ligações a esta divisão, e Amândio Dias, técnico superior da DRCN.
Leia Também: MP: Empresários entregaram mais de 120 mil euros a vice de Gaia