Face ao anúncio da suspensão provisória de dois cirurgiões do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), esta quarta-feira, o diretor clínico da unidade de saúde, Horácio Luís Guerreiro, adiantou que a instituição ainda não foi informada da decisão da Ordem dos Médicos (OM), tomada na sequência das denúncias de más práticas feitas em abril por uma médica interna.
"Não fomos notificados. Também não ouvi o senhor bastonário, embora saiba que falou na televisão e, como tal, posso estar aqui a comentar, dando como adquirido que realmente houve essa suspensão provisória de dois cirurgiões do CHUA", disse Horácio Luís Guerreiro, em declarações à RTP3.
O responsável disse ainda desconhecer quais os cirurgiões suspensos por seis meses por "fortes indícios de má prática", ainda que tenha adiantado que "um dos implicados neste caso tinha pedido a sua auto-suspensão, pelo menos de funções de primeiro cirurgião, [e] estava a colaborar como segundo cirurgião", uma vez que "ele próprio sentia-se limitado na sua capacidade de serenidade e de decisão para poder assumir mais responsabilidades".
O diretor clínico apontou ainda que "o CHUA foi a primeira entidade a desencadear um processo de inquérito assim que teve acontecimento do caso e, simultaneamente, foi o CHUA que pediu a intervenção da OM para apurar os factos".
"O nosso inquérito não chegou a ser concluído; quando estava numa fase de conclusão, a Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS) avocou o processo, de tal forma que perdemos o controlo [e] ficámos dependentes das entidades externas que estão a fazer os vários inquéritos", disse, quando questionado se a decisão era uma surpresa.
E complementou: "Não tenho elementos para saber se, realmente, havia factos relevantes, ou não. Os indícios que havia é que, nos casos mais graves que culminaram em mortalidade, a prática cirúrgica era adequada e esses óbitos decorriam da própria doença e não da ação dos cirurgiões que, aliás, até teria sido zelosa. Sobre os outros casos, não tenho como me pronunciar."
Horácio Luís Guerreiro foi mais longe, considerando que, como se trata de "uma suspensão provisória, não demonstra que as pessoas tenham uma responsabilidade relevante".
"Poderá concluir-se que é uma medida apenas cautelar, que não significa negligência da parte dos médicos", disse, indicando desejar que "o CHUA saia disto mais reforçado, porque queremos oferecer condições de segurança e de qualidade".
"Se a OM tem dúvidas sobre o assunto, então deve ficar clarificado, para que as pessoas fiquem tranquilas", rematou.
Em causa está uma queixa efetuada em abril pela médica interna Diana Pereira na Polícia Judiciária e divulgada na sua conta na rede social Twitter sobre "11 casos ocorridos entre janeiro e março" no hospital de Faro de "erro/negligência" no serviço de cirurgia.
De acordo com Diana Pereira, dos 11 casos reportados, três doentes morreram, dois encontravam-se na altura internados nos cuidados intermédios e os restantes tiveram lesões corporais associadas aos alegados erros médicos.
O bastonário da OM, Carlos Cortes, anunciou esta quarta-feira que a suspensão dos dois cirurgiões é, "obviamente, por segurança dos doentes", mas também para permitir que o conselho disciplinar continue a desenvolver as diligências internas de análise dos vários casos que, na altura, foram denunciados.
Paralelamente, a OM criou uma comissão independente, composta por cinco cirurgiões que "estão a analisar de uma forma mais aprofundada, do ponto de vista técnico-científico, todos estes casos", referiu também o bastonário.
Na altura em que foram feitas as denúncias, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e a IGAS anunciaram que iriam investigar a alegada negligência no serviço de cirurgia do Hospital de Faro para "cabal esclarecimento" da situação.
Estas denúncias levaram também o Ministério Público a instaurar um inquérito, que decorre no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Faro.
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