Luís Montenegro falava aos jornalistas no parlamento, pouco depois de ter sido chumbada a moção de confiança ao Governo, que implicou a demissão do executivo minoritário PSD/CDS-PP.
O primeiro-ministro salientou que a proposta final do Governo apontava final de maio como prazo limite para as conclusões do inquérito, "quase 80 dias", e a retirada da moção de confiança, contra os 90 dias propostos pelo PS, mas com uma comissão ainda sem data para arrancar e cujo prazo poderia ser prolongado.
"O PS manteve-se intransigente na sua proposta de ter uma comissão de inquérito prolongada no tempo, com isso querendo que a degradação política e todo o impasse gerado à volta da contaminação do trabalho governativo pudesse ser o mais longo possível", acusou.
Montenegro foi questionado, por várias vezes, por que deixou para hoje essa tentativa de diálogo com o PS, tendo acabado por responder que "era este o momento onde todos tinham a oportunidade de assumir a sua responsabilidade".
"Nós tentámos, a todo o custo, até à última hora, evitar a criação de eleições antecipadas no horizonte dos portugueses e da vida do país", defendeu.
Apesar das críticas ao PS, que acusou de se ter mantido "irredutível", Montenegro disse não interessado "numa discussão de passa culpas".
"Estou interessado em esclarecer os portugueses sobre a nossa posição e a empenhado em poder, nos próximos dias, fazer o esclarecimento, junto do Presidente da República e esperar todas as suas decisões e diligências, com vista a podermos ultrapassar esta situação", afirmou, numa altura em que já é conhecido que Marcelo Rebelo de Sousa receberá os partidos na quarta-feira e ouvirá o Conselho de Estado na quinta-feira.
O primeiro-ministro admitiu que os portugueses que assistiram ao desfecho da crise política estão "preocupados, apreensivos e também perplexos", reiterando que entende ser preferível "que haja uma clarificação nos próximos dois meses a um ano ou um ano e três meses de instabilidade permanente".
"Nós não podemos estar aqui a qualquer custo e não podemos levar o país para um ciclo prolongado de degradação política e de contaminação do debate político e de contaminação da capacidade do Governo em executar o seu programa", afirmou.
O primeiro-ministro defendeu que a aprovação da moção de confiança, pela abstenção do PS, era até "o meio mais expedito para que a Comissão de Inquérito começasse desde já", nos termos em que o PS a propôs.
Questionado se sai fragilizado com este chumbo da moção de confiança, o primeiro-ministro considerou que "quem sai fragilizado é, sobretudo, o país".
Já à pergunta por que não retirou a moção de confiança, repetiu a tentativa de conciliar "a necessidade de ter um Governo na plenitude das suas funções com um exercício de esclarecimento que tenha um contexto de previsibilidade e não de duração ilimitada".
O primeiro-ministro voltou a defender que já prestou muitos esclarecimentos sobre a sua empresa familiar quer no parlamento, nas duas moções de censura que enfrentou em 15 dias, quer nas respostas escritas a BE e Chega, quer no espaço público.
"As pessoas que falam em nome dos partidos políticos da oposição não querem os esclarecimentos porque nunca estão satisfeitos com os esclarecimentos", considerou.
A este propósito, apontou uma contradição entre o objeto da CPI entregue pelo PS e o que tem sido dito pelo seu líder, Pedro Nuno Santos.
"Verdadeiramente o que quer é esmiuçar todo o funcionamento da empresa que eu criei quando estava fora da atividade política ativa", declarou.
A atual crise política teve início em fevereiro com a publicação de uma notícia, pelo Correio da Manhã, sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, Spinumviva, detida à altura pelos filhos e pela mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, - e que passou na semana passada apenas para os filhos de ambos - levantando dúvidas sobre o cumprimento do regime de incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos públicos e políticos.
Seguiram-se semanas de notícias - incluindo a do Expresso de que a empresa Solverde pagava uma avença mensal de 4.500 euros à Spinumviva -, duas moções de censura ao Governo, de Chega e PCP, ambas rejeitadas, e o anúncio do PS de que iria apresentar uma comissão de inquérito.
[Notícia atualizada às 20h56]
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