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Marcelo avisa: "É preciso cortarmos ramos mortos, que atingem a árvore"

O Presidente da República deixou o que pode ser um recado ao ministro das Infraestruturas, João Galamba, e pediu um Portugal "mais forte e mais justo cá dentro", com "mais riqueza, mais igualdade e mais coesão".

Marcelo avisa: "É preciso cortarmos ramos mortos, que atingem a árvore"
Notícias ao Minuto

12:26 - 10/06/23 por Inês Frade Freire com Lusa

País Presidente da República

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, voltou a deixar recados ao Governo, este sábado, no usual discurso durante as celebrações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas no Peso da Régua, distrito de Vila Real.

Lembrando a influência de Portugal no mundo, com a língua portuguesa a ser "a 5ª língua mais falada no mundo e a segunda mais falada no hemisfério sul", um secretário-geral da ONU reeleito, um "peso no mundo muito maior que a nossa superfície terrestre", Marcelo questionou: "Do que nos serve termos essa influência mundial, se entre portas sempre tivemos e temos problemas por resolver? Mais pobreza do que riqueza, mais desigualdade do que igualdade, mais razões às vezes para partir do que para ficar?".

O chefe de Estado pediu ainda um Portugal "mais forte e mais justo cá dentro". No que pode ser entendido como um recado ao ministro das Infraestruturas, João Galamba, envolto em polémica, Marcelo comparou a situação com o Douro: "É preciso cortarmos os ramos mortos, que atingem a árvore toda", sublinhou.

Considerou ainda que o país não quer "nunca cometer o erro" de trocar a sua vocação universal pela ilusão de que, para ser feliz, é necessário deixar de ser o que o marcou "há séculos".

"Mas atenção, que isso não seja álibi ou justificação para não sermos mais fortes e mais justos cá dentro, até para podermos ser mais fortes e justos lá fora", frisou.

Segundo o Presidente, "é esse o apelo deste Douro e de todos os Douros": "Pegarmos no impossível, tentarmos uma vez, mil vezes, falharmos mais do que acertarmos, (...) não desistirmos, começarmos de novo".

"Darmos de novo viço ao que disso precisar. Plantarmos, semearmos, podarmos, cortarmos os ramos mortos que atingem a árvore toda. Recriarmos juntos, neste Douro, em todos os nossos Douros, o que faça o nosso futuro muito diferente e muito melhor do que o nosso presente", declarou, sem nunca mencionar diretamente qualquer caso político atual.

Com o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infraestruturas, João Galamba, a ouvi-lo na plateia, o Marcelo disse: "Só se não quisermos é que o nosso Portugal não será eterno".

Neste discurso, de pouco mais de 15 minutos, salientou que o 10 de Junho deste ano é "muito diferente dos últimos" por ser comemorado no Peso da Régua, uma "cidade do interior, que nunca foi nem capital de distrito, nem cabeça de diocese".

"É o retrato do Portugal que queremos, porque nós queremos que os Pesos das Réguas dos nossos interiores sejam tão importantes quanto as Lisboas, os Portos, os Setúbais, as Coimbras, os Aveiros, as Vianas do Castelo, os Faros deste nosso continente e, claro, os Funchais, os Portos Santos, as Pontas Delgadas, as Angras do Heroísmo, as Hortas, os São Jorges, as Madalenas, as Santas Marias, as Graciosas, as Flores e os Corvos", elencou.

Só somos verdadeiramente portugueses na medida em que sempre fomos e somos universais, mas sempre disponíveis para a solidariedade em relação aos outros

Por outro lado, o chefe de Estado salientou também que este 10 Junho une 19 municípios, "como que a dizer que só a união faz a força, a união na diversidade, mas a união em torno daquilo que é mesmo essencial para todos eles" e para todos os portugueses.

O Presidente destacou que o Douro "será sempre um exemplo da vontade, da persistência, da determinação dos homens e das mulheres perante uma natureza única, mas avassaladora, inclemente, quase indomável".

Para o chefe de Estado, o vinho do Douro "projetou Portugal no mundo e continua a projetar", numa altura em que o "crescimento e a justiça social" que o país ambiciona "se fazem de investimento, de exportações de bens, como esse vinho de excelência, e também de exportações de serviços".

"Só somos verdadeiramente portugueses na medida em que sempre fomos e somos universais, mas sempre disponíveis para a solidariedade em relação aos outros", referiu.

Neste ponto, abordou o caso de Manuel Ponte, o português que, esta quinta-feira, ajudou a impedir um atacante de fugir à polícia num parque infantil em Annecy, nos Alpes Franceses, para salientar que, esse cidadão, com mais de 70 anos, "fez aquilo que outros, com menos de 70 anos de idade, não fizeram".

"Partimos há mais de seis séculos e nunca deixámos de ir e de vir, de largar e de voltar, por pobreza, por aventura, por desejo de horizontes mais largos, por sobrevivência, algumas vezes, tantas vezes, convertida em realização e de entender, ao mesmo tempo, que temos de receber outros, tal como exigimos que eles nos recebam a nós", disse.

Acrescentou ainda que o Douro, que está "de novo navegável, e tantos velhos do Restelo não acreditavam, está hoje aqui no seu potencial, contribuindo para o desenvolvimento da região e o bem-estar dos seus habitantes".

"Obras fundamentais que fizemos e outras que não fizemos e continuamos a adiar", frisou.

Recorde-se que Marcelo Rebelo de Sousa discursou, este sábado, nas celebrações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas que decorrem no Peso da Régua, distrito de Vila Real, após uma comemoração externa junto das comunidades portuguesas na África do Sul, que começou já na segunda-feira, e juntou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa. 

Leia Também: AO MINUTO: Galamba vaiado no Peso da Régua; Marcelo discursa às 11h45

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