Cara de Costa "animalizada". Incidente "racista" mancha Dia de Portugal
Os cartazes mostram o governante com nariz de porco, lábios pronunciados e lápis espetados nos olhos e foram expostos nas celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
© Lusa
País António Costa
Um conjunto de nove organizações de professores decidiu marcar presença nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, no Peso da Régua. Queriam pedir "respeito" e reafirmar que a luta pelos seus direitos iria continuar. No entanto, a polémica estalou quando surgiram cartazes com uma caricatura difamatória do primeiro-ministro, António Costa.
Os cartazes mostram o governante com nariz de porco, lábios pronunciados e lápis espetados nos olhos. Um outro cartaz mostra uma imagem semelhante do ministro da Educação, João Costa, mas sem quaisquer características suínas. Em ambos, lê-se a palavra "demissão".
Apesar de ter considerado que "o protesto dos professores faz parte da liberdade e da democracia", o primeiro-ministro, após ter sido perseguido até um restaurante, virou-se para trás e chamou um dos manifestantes a segurar o cartaz de "racista", visivelmente exaltado, segundo conta a agência Lusa.
A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) foi a primeira a demarcar-se dos insultos e atos de populismo. "A FENPROF demarca-se daquelas imagens, considerando que para se exigir respeito é necessário saber respeitar. Se a lutar também se está a ensinar, não se podem usar como armas o insulto e populismo. Imagens como as que foram exibidas não dignificam os professores e a sua justa luta", afirmou a estrutura sindical em comunicado.
Seguiu-se o Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), na noite de domingo, a indicar que "o protesto de professores que teve lugar nas comemorações do 10 de Junho, em Peso da Régua, não foi convocado pelo sindicato STOP".
"Os profissionais de educação que ali se manifestaram exerceram o seu direito de protesto de forma livre, enquanto cidadãos em pleno uso dos seus direitos constitucionais", apontou a organização sindical, em comunicado.
A entidade liderada por André Pestana, a quem foi atribuída a 'culpa', recusou ainda "qualquer acusação de incitação a atitudes de teor racista", indicando que "os estatutos do STOP expressam claramente o repúdio da discriminação com base na raça".
As condenações a um incidente "lamentável" e "racista"
O presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, lamentou o incidente e considerou que "existem muitas formas de manifestar desagrado". No entanto, "tudo o que seja evoluir para situações de falta de respeito, além de não ajudarem a democracia, também não ajudam as causas daqueles que usam esse tipo de linguagem", pelo que "são lamentáveis esse tipo de incidentes".
Também a líder do PAN, Inês Sousa Real, afirmou ser "lamentável" que "uma data em que tantas vezes evocamos o papel de Portugal na promoção de valores como a tolerância, a igualdade, a inclusão e a multiculturalidade, acabe marcado pelas imagens que foram exibidas nos protestos".
É lamentável que o dia 10 de junho, uma data em que tantas vezes evocamos o papel de Portugal na promoção de valores como a tolerância, a igualdade, a inclusão e a multiculturalidade, acabe marcado pelas imagens que foram hoje exibidas nos protestos.
— Inês de Sousa Real (@lnes_Sousa_Real) June 10, 2023
Já a deputada socialista Isabel Moreira sublinhou que o chefe de Governo "sabe que animalizar daquela forma a sua cara - o rosto de uma pessoa racializada - não é a mesma coisa que animalizar quem nunca sofreu ‘por causa’ da sua etnia".
"António Costa sabe mais do que qualquer comentador ou pessoa branca que não vê nada de diferente entre animalizar António Costa daquela forma específica ou uma pessoa branca com uma intenção insultuosa", sublinhou.
Atribuindo a autoria dos cartazes ao líder do STOP, Ana Gomes acusou André Pestana de estar "ao nível da extrema-direita" e descreveu as imagens como "um cartaz inqualificável, racista e dramático".
"O André do STOP está ao nível do outro André, da extrema-direita", frisou, referindo-se a André Ventura, líder do partido Chega.
O social-democrata Luís Marques Mendes também condenou o cartaz e afirmou que os docentes "é suposto educarem e serem bons exemplos".
"Isto é lamentável, censurável, de muito mau gosto, ofensivo; isto não se faz. Posso concordar ou não concordar com o primeiro-ministro, gostar ou não gostar de António Costa, criticar de forma mais severa ou mais cruel as suas decisões. Mas um primeiro-ministro é para respeitar. É inaceitável", frisou, acrescentando que "é mais inaceitável em professores, que é suposto educarem e serem bons exemplos".
Sublinhe-se que os docentes espalharam-se entre os populares que se juntaram para assistir às cerimónias oficiais militares do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, no sábado.
Os docentes traziam nas mãos pequenos cartazes vermelhos onde se podia ler a mensagem "Respeito, precariedade não! - Carreira recomposta, salários atualizados - horários legais - aposentação justa!", enquanto uma docente de Vila Real carregava um grande cravo vermelho e verde.
Outras imagens mostravam o primeiro-ministro com dois lápis nos olhos e um nariz de porco.
Leia Também: Cartazes de Costa? "André Pestana está ao nível da extrema-direita"
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com