O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, salientou que o incêndio que deflagrou na tarde de terça-feira em Alcabideche, no concelho de Cascais, fez “temer o pior”, uma vez que os ventos poderiam ter encaminhado o fogo para a Serra de Sintra, o que seria “bastante trágico”.
Conforme adiantou o responsável em declarações à RTP3, as causas deste incêndio estão a ser objeto de investigação por parte da Polícia Judiciária (PJ), em cooperação com a Guarda Nacional Republicana (GNR), sendo que, nos próximos dias, poderá ser “possível ter alguns elementos indiciários”.
José Luís Carneiro não deixou de prestar uma “palavra de agradecimento às mulheres e aos homens de todo o dispositivo da Proteção Civil, aos bombeiros, à Câmara Municipal de Cascais, e a todos os atores que contribuíram para que, tendo deflagrado às 17h00, e tendo ventos que nalguns momentos atingiram os 65 km/h, por volta das 4h00 da manhã estivesse em condições de estar dominado”.
Ainda que durante a manhã desta quarta-feira tenha sido possível “vencer” todas as frentes, o socialista admitiu que este “foi um incêndio que fez temer pelo pior”, uma vez que os ventos poderiam tê-lo “encaminhado durante a noite para a Serra de Sintra”.
“Isso seria, de facto, bastante trágico, a par das proximidades que teve com as habitações e com o próprio hospital”, complementou.
Portugal tem "maior número de meios" atualmente
De acordo com o responsável pela pasta da Administração Interna, um ataque rápido às frentes ativas é um fator “essencial” para a eficácia do combate aos incêndios, cuja estratégia foi, este ano, “melhorada com um maior número de meios”.
“Estamos a falar do maior número de meios materiais, humanos e aéreos de sempre neste dispositivo, porque temos bem patente que o ataque inicial é mesmo essencial para evitar que uma ignição se possa vir a transformar num grande incêndio”, salientou.
José Luís Carneiro deu ainda conta de que, atualmente, Portugal tem uma taxa de eficácia de 95% no que diz respeito ao combate aos incêndios, para a qual muito tem contribuído a temperatura relativamente amena que se faz sentir, ao contrário do que ocorreu no ano passado e em períodos anteriores.
“Ou seja, entre a saída e a capacidade de debelar os incêndios até 90 minutos estamos a conseguir uma taxa de 95%. No ano que passou tivemos uma taxa de 90%, mas é evidente que há condições atmosféricas que também têm contribuído”, disse, exemplificando que os incêndios que estão a assolar a bacia do Mediterrâneo são ilustrativos daquilo que, em 2022, a tutela procurou transmitir.
“Temperaturas acima de 30º, humidade abaixo de 30%, ventos acima de 30 km/h criam os chamados incêndios extremos. O que se está a viver na Grécia, em França, em Espanha e no Canadá são esses incêndios extremos, que têm momentos em que não é possível o combate. Portanto, trata-se de mitigar o risco e a proteção das pessoas e dos seus bens e, nas condições possíveis, poder enfraquecer estas frentes de incêndio e procurar aumentar os níveis de eficácia do combate”, esclareceu.
"Palavras de precaução são as melhores que podem ser deixadas"
Nessa linha, o ministro da Administração Interna atribuiu os melhores resultados sentidos até ao momento não só às condições climatéricas, mas também ao nível de eficácia do dispositivo da Proteção Civil, ao mesmo tempo que recordou que “há meses muito complicados”.
“Diria que, nestas matérias, palavras de precaução são mesmo as melhores que podem ser deixadas. Há meses muito complicados – agosto, setembro – o que significa que se pode prolongar até outubro. Recordo que, em 2017, um dos momentos mais críticos foi o mês de outubro”, lembrou, numa alusão aos incêndios na região Centro que provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos.
Além disso, José Luís Carneiro fez questão de reforçar que “dois terços dos incêndios têm causas negligentes no uso do fogo, das máquinas agrícolas, e das máquinas florestais”, dando também conta do perigo que viaturas em estradas representam no que diz respeito ao brotar de uma ignição, tal como sucedeu no incêndio que tem lavrado uma zona de mato durante esta quarta-feira, em Almodôvar.
“É muito relevante que, enquanto comunidade nacional, tenhamos a consciência de que dois terços dos incêndios têm a ver com ignições. Por mais meios, por mais conhecimento, por mais recursos que tenhamos, é mesmo importante evitar as ignições, porque é desse número reduzido que conseguimos maior eficácia no ataque inicial”, reiterou.
Vento tem dificultado combate aos incêndios
O ministro apontou ainda que, neste momento, há menos pessoas detidas por crimes associados a incêndios do que no ano de 2022. Isto porque, segundo o mesmo, “em meados de julho [do ano passado] estávamos com temperaturas de 47º e havia um quadro que obrigou a termos nacionais à adoção da declaração de alerta de contingência”.
“Felizmente, até agora, ainda não vivemos esse quadro atmosférico. O que tem tornado muito difícil o combate, e particularmente ontem, em Cascais, tem sido o vento: 65 km/h faz com que a intensidade do incêndio crie uma complexidade no combate, mesmo com temperaturas mais baixas”, ressalvou.
Recorde-se que o incêndio em Cascais foi dado como dominado pelas 04h00, estando no local 591 operacionais apoiados por 182 viaturas, de acordo com o site da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
Nove bombeiros sofreram ferimentos leves no combate às chamas, maioritariamente por "situações de exaustão", e quatro civis foram assistidos "por inalação de fumos", segundo revelou o comandante do Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil da Grande Lisboa, Hugo Santos, num ponto da situação realizado pelas 23h45 de terça-feira.
O incêndio florestal levou à retirada de perto de 90 pessoas "por precaução", incluindo dois grupos de escuteiros portugueses e espanhóis, adiantou à Lusa o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras (PSD).
Foram ainda retirados moradores das localidades do Zambujeiro, Cabreiro ou Murches.
Por fim, cerca de 880 animais provenientes do canil municipal e da Associação São Francisco de Assis foram também transferidos para outro pavilhão municipal, sendo que "já estão todos de regresso aos seus locais de origem".
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