Abusos, apelos à paz e críticas à eutanásia. Os discursos do Papa

O Papa Francisco reconheceu hoje, primeiro dia da visita a Portugal para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), existir desilusão com a Igreja devido aos escândalos com os abusos sexuais de menores.

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© Horacio Villalobos#Corbis/Getty Images

Lusa
02/08/2023 20:03 ‧ 02/08/2023 por Lusa

País

JMJLisboa2023

Nas primeiras horas da sua visita a Portugal, deixou ainda apelos à paz em tempos de guerra na Ucrânia e fez uma crítica aberta às leis da eutanásia, em vigor em Portugal, além de falar sobre os problemas do ambiente.

Quatro temas na agenda e nas palavras do Papa no dia de hoje

Falar de abusos sem dizer sexuais

Foi perante bispos, sacerdotes e outros membros da Igreja Católica, que o Papa abordou o tema que tem abalado a Igreja portuguesa no último ano e meio, os abusos de menores, embora nunca tenha usado a palavra sexuais.

As vítimas de abusos, disse Francisco, devem ser sempre acolhidas e escutadas, e reconheceu existir desilusão e raiva à instituição, devido aos escândalos.

Na homilia das Vésperas (oração ao entardecer) com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, admitiu existir uma "indiferença para com Deus" e "um progressivo afastamento da prática da fé" nos "países de antiga tradição cristã, atravessados por muitas mudanças sociais e culturais e cada vez mais marcados pelo secularismo".

"Isto acentua-se pela desilusão e pela raiva que alguns nutrem face à Igreja, devido às vezes ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma purificação humilde e constante, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar", afirmou o Papa.

Hoje foi também o dia em que surgiram os cartazes em que se denunciam os cerca de 4.800 casos de abusos na Igreja, em Portugal, em Lisboa, Loures e Algés.

Europa, construtora de pontes para "apagar focos de guerra"

Logo no seu primeiro discurso, Francisco fez um apelo à Europa para que construa pontes e que "use o seu engenho para apagar focos de guerra".

Numa Europa a viver uma guerra na Ucrânia, após a invasão pela Rússia, e, num encontro com autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, Francisco afirmou: "Olhando com grande afeto para a Europa, no espírito de diálogo que a caracteriza, apetece perguntar-lhe: para onde navegas se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo?"

"O mundo tem necessidade da Europa, da Europa verdadeira. Precisa do seu papel de construtora de pontes e de pacificadora no Leste europeu, no Mediterrâneo, na África e no Médio Oriente", acrescentou.

A agenda "verde" do Papa

O Papa Francisco tem também uma agenda ambiental e levou-a para o discurso no CCB, voltando a chamar a atenção para o problema ambiental global que continua "extremamente grave".

E alertou para o aquecimento dos oceanos e para a destruição de reservas de vida, considerando que o ambiente, o futuro e a fraternidade são "três estaleiros da construção da esperança".

Políticas ou "uma boa política", alertou, são necessárias para "fazer muito" e dar esperança.

Essa política, alertou ainda, "é chamada, hoje mais do que nunca, a corrigir os desequilíbrios económicos dum mercado que produz riquezas, mas não as distribui, empobrecendo de recursos e de certezas os ânimos".

Falar contra a eutanásia

No mesmo encontro, o Papa dedicou duas frases à eutanásia, num país que tem em vigor há apenas menos de três meses uma lei de morte assistida, aprovada pelos partidos de esquerda e promulgada pelo Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa estava a seu lado quando ouviu o Papa dizer que a vida humana está colocada "em risco por derivas utilitaristas que a usam e descartam".

"No mundo evoluído de hoje, paradoxalmente, tornou-se prioritário defender a vida humana, posta em risco por derivas utilitaristas que a usam e descartam", disse Francisco, perante o primeiro-ministro, António Costa, presente na plateia da sala do CCB.

Após um prolongado processo de debate, a lei da eutanásia foi aprovada pelo parlamento e depois promulgada pelo Presidente, em 16 de maio.

Leia Também: "Sonhamos a Igreja portuguesa como um porto seguro"

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