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Retirada de cartaz em Oeiras é "censura" e "subserviência" à Igreja

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) considerou hoje que a retirada de um cartaz que denunciava os abusos sexuais a crianças na Igreja, pela Câmara de Oeiras, é um ato de censura e de subserviência à Igreja Católica.

Retirada de cartaz em Oeiras é "censura" e "subserviência" à Igreja
Notícias ao Minuto

13:16 - 03/08/23 por Lusa

País JMJ

"Consideramos que tal ação fere o princípio constitucional de manifestação e de livre expressão e que, por tal, é não só um ato de censura como também um ato de subserviência do seu executivo à Igreja Católica", refere a AAP em comunicado, dirigido ao presidente da autarquia, Isaltino Morais.

Um dos três cartazes em que se denunciam os abusos sexuais a crianças na Igreja portuguesa, colocado em Algés, no concelho de Oeiras, foi retirado por ordem do município por ser "publicidade ilegal", uma vez que toda a publicidade ilegal no concelho é retirada, justificou a autarquia.

Os cartazes em causa, em que se lê a frase "Mais de 4.800 crianças abusadas pela Igreja católica em Portugal", em inglês, ilustrada por 4.800 pontos que representam cada uma das vítimas, foram colocados na madrugada de quarta-feira em Lisboa, Loures e Algés.

"Discordamos da justificação relativa à ilegalidade do cartaz por a sua estrutura não estar autorizada. E discordamos porque a estrutura dos 'outdoors' já lá se encontrava há muito tempo e lá continua. Portanto, o problema nunca foi a estrutura ou a sua legalidade, mas a mensagem contida no cartaz", prossegue a AAP.

Recordando que o Estado Português é laico e que "nenhuma religião deve ser privilegiada", aquela associação lamenta que a Igreja Católica seja privilegiada através de financiamento público e, agora, através da remoção daquele cartaz, que invoca as vítimas de abusos sexuais no seio da organização religiosa.

"O que a autarquia fez foi contribuir para a contínua ocultação dos abusos sexuais de menores pela Igreja Católica, que são um problema social internacional. O intuito, subentende-se, é o de não afrontar a organização religiosa, e fê-lo através da censura de uma iniciativa da sociedade civil", conclui.

Em novembro de 2021, mais de duas centenas de católicos defenderam que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) deveria "tomar a iniciativa de organizar uma investigação independente sobre os crimes de abuso sexual na Igreja".

Poucos dias depois, o pedopsiquiatra Pedro Strecht era nomeado pela CEP como coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja.

Esta comissão iniciou o seu trabalho no dia 11 de janeiro de 2022, apresentou resultados em fevereiro deste ano e anunciou a validação de 512 testemunhos de alegados casos de abuso em Portugal, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas.

Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.

No relatório, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'" deste fenómeno.

Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente sacerdotes do ministério.

Leia Também: Responsáveis por cartaz retirado em Algés ponderam "via judicial"

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