Nunca tão cedo se tinham antecipado tantos cenários. Ainda faltam mais de dois anos para as eleições presidenciais, mas, à Direita, parecem não faltar 'candidatos a candidatos': desde os que já admitiram poder vir a estar disponíveis aos que ainda não abriram o jogo sobre uma eventual candidatura.
À boleia de Luís Marques Mendes, a corrida a Belém tomou conta da agenda política desta reta final do verão, mas esta pode não ser a única personalidade de olhos postos na Presidência da República.
À Esquerda, porém, a corrida faz-se a outro compasso. Sendo certo que já lá vão vários anos desde que o país teve um Presidente da República socialista, Santos Silva parece ser, neste momento, um dos nomes mais bem posicionados para o lugar que Marcelo deixará vago em 2026 - uma vez que após cumprir dois mandatos não poderá recandidatar-se. Embora António Guterres reúna, talvez, maior apoio, uma candidatura do atual secretário-geral da ONU parece, para já, improvável.
No espaço televisivo, as opiniões de comentadores e figuras políticas sobre o 'tema quente' de agosto dividem-se. Se uns, como Cecília Meireles e Catarina Martins, criticam a discussão antecipada sobre as presidenciais de 2026, notando que ainda há "duas eleições pelo caminho" e defendendo que o país tem de "se preocupar, para já, com decisões reais"; outros, como o socialista Pedro Delgado Alves, acreditam que faz sentido "pensar sobre o assunto" nesta altura.
Marques Mendes
Questionado sobre o significado político da sua presença na Festa do Pontal, o conselheiro de Estado aproveitou o seu espaço de comentário na SIC Notícias para assumir que admite apresentar uma candidatura presidencial "se houver utilidade para o país" e "um mínimo de condições para avançar".
Se eu vir que tem alguma utilidade uma candidatura minha, e que tenho o mínimo de condições para o concretizar, sou franco: tomarei essa decisão
Apesar de ter precipitado o assunto, esta disponibilidade de Marques Mendes não foi propriamente uma surpresa. Há muito que o nome do ex-presidente do PSD era apontado como um dos mais bem posicionados para uma candidatura ao cargo, após vários anos de comentário televisivo em horário nobre.
Além disso, em março deste ano, o social-democrata já tinha mostrado disponibilidade para avaliar uma possível candidatura, embora, na altura, tenha remetido o tema para 2024.
Santana Lopes
A disponibilidade do antigo primeiro-ministro do PSD para uma candidatura ao cargo também não é novidade. Santana Lopes já tinha afirmado, até, que não via ninguém, no espaço centro-direita, "com maior ou melhor currículo" do que o próprio para a corrida à Presidência da República.
Esta quarta-feira, entretanto, em declarações à SIC Notícias, o atual presidente da câmara da Figueira da Foz admitiu que, a avançar, deverá anunciar a decisão a meio do próximo ano. É que, ao contrário do que tem sido defendido por muitos no espaço político, Santana Lopes recusa que seja cedo para falar de presidenciais.
"Daqui a um ano já se está em campanha", defende. "Uma decisão para o ano acho que faz sentido porque os candidatos têm de começar a fazer campanha, têm de correr o país", referiu.
Ressalvando que o seu "compromisso maior é para com a Figueira [da Foz]", Santana Lopes salienta que "o que interessa para Portugal é [perceber] quem é que está em melhores condições e quem saberá melhor ser Presidente da República".
Há determinadas coisas que vejo que penso: Ainda bem que sou independente. Lembro-me das razões que me levaram a sair. Ainda estão lá essas razões
De qualquer forma, o antigo chefe de governo garante que não pensa regressar à família social-democrata. Recorda que enfrentou mais "armadilhas de dentro do que de fora" e que, por isso, gosta de "ser independente".
António Guterres
À frente de várias sondagens que têm surgido nos últimos meses, António Guterres parece ser um dos nomes que reúne maior consenso, até por parte de comentadores televisivos e outras figuras políticas.
Apesar de não se ter pronunciado sobre o tema, tem sido uma das figuras socialistas mais apontadas nos últimos anos como potencial candidato a Presidente da República.
Paulo Portas (e o aviso à Direita)
Apesar de ser um dos principais nomes apontados à corrida a Belém, o antigo líder do CDS-PP aproveitou a sua presença na Universidade de Verão do PSD para defender que a prioridade do espaço não socialista deve ser construir uma alternativa para suceder ao primeiro-ministro António Costa e não procurar um sucessor para o Presidente da República.
A mim parece-me que para o espaço não socialista a prioridade é construir uma alternativa que suceda ao dr. António Costa, não é encontrar um sucessor para o professor Rebelo de Sousa
O comentador televisivo e administrador não executivo da Mota-Engil decidiu assim não abrir o jogo sobre se ele próprio estará na corrida, apesar de ter marcado presença tanto na rentrée do CDS, como na do PSD.
Chega promete candidato próprio
Após as declarações de Marques Mendes, que trouxeram o tema à ordem do dia, o presidente do Chega, André Ventura, prometeu que o partido terá um candidato próprio nas eleições presidenciais de 2026 caso as opções sejam Luís Marques Mendes e Augusto Santos Silva, considerando tratar-se de "legítima defesa".
Ventura não quis concretizar se poderá ser ele próprio o candidato, como aconteceu em 2021, e deixou em aberto a possibilidade de o Chega apoiar um candidato de outro partido à Direita, dizendo apenas "ter respeito" por Paulo Portas, mas duvidando de que o antigo líder do CDS-PP avance para Belém.
Augusto Santos Silva
Já foi abordado diversas vezes sobre uma possível candidatura a Belém. Em julho do ano passado, em entrevista à RTP2, o socialista foi questionado sobre o seu futuro político e não excluiu nenhuma possibilidade.
“Não rejeito nada em absoluto, porque se o fizesse não tinha procurado servir o meu país onde era necessário e entendido como mais útil", afirmou, na altura.
Mais tarde, em outubro, o líder da bancada parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, deu uma entrevista onde defendia que o atual presidente da Assembleia da República "tem todas as condições para ser um bom candidato" a Belém.
Gouveia e Melo
Em 2021, foi eleito personalidade nacional pelos jornalistas da Lusa, num ano em que passou de quase desconhecido a "herói", devido à coordenação do processo de vacinação contra a Covid-19.
Desde então, tem sido um dos nomes mais apontados à corrida à Presidência, apesar de ter insistido muitas vezes que não quer ser político.
"Têm-me aconselhado a dizer que dessa água não beberei, que é uma frase muito forte que não se deve dizer nunca. Tenho uma carreira militar que pretendo continuar. O futuro só a Deus pertence", referiu naquela altura.
O vice-almirante (agora almirante) que ganhou notoriedade pela forma como conduziu a campanha de vacinação chegou a posicionar-se como o preferido na corrida à Presidência, à frente de nomes como Augusto Santos Silva, Marques Mendes e Paulo Portas. Agora, há quem projete que o objetivo de chegar a chefe de Estado-Maior das Forças Armadas possa afastá-lo da corrida a Belém.
Leia Também: Presidenciais? Santana Lopes admite decisão "no meio do ano" de 2024