Greve dos funcionários judiciais com adesão acima dos 90%
A adesão dos funcionários judiciais à greve de hoje fixou-se acima dos 90%, segundo o sindicato, que adiantou que muitos tribunais estiveram completamente encerrados e só na próxima semana será possível estimar o impacto no trabalho acumulado.
© Lusa
Segundo António Marçal, presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ), em alguns locais do país hoje viveu-se "uma calma típica de cemitério", devido ao encerramento dos tribunais.
"Atendendo a que os grandes tribunais estiveram fechados, estimamos em muito acima dos 90% a adesão à greve. Nós só teremos a real dimensão do que se poderia ter passado hoje na próxima semana, quando efetivamente houver necessidade de tramitar e colocar em execução algumas das coisas que deveriam ter sido executadas hoje", disse António Marçal à Lusa, num balanço do dia de greve, que marcou o regresso das férias judiciais.
Entre o que foi adiado pela greve de hoje está a execução da lei da amnistia, aprovada por ocasião da vinda do Papa a Portugal, em agosto, e que entrou hoje em vigor, tendo gerado polémica ao longo desta semana entre a magistratura e sindicatos de oficiais de justiça por um ofício da Direção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ), assinado pela diretora-geral, a juíza desembargadora Isabel Namora, no qual se emitiram orientações classificadas pelos juízes como uma interferência na esfera reservada da independência judicial.
Para António Marçal, esta é uma questão que Ministério da Justiça (MJ), conselhos superiores da magistratura e até a Assembleia da República "terão de analisar de forma muito fria".
"Qualquer que seja a motivação para o ofício da DGAJ, ele é de qualquer das formas grave. É grave se foi uma tentativa de interferência na esfera da independência do poder judicial, mas é também grave se isso tentou ser uma forma de gorar um direito constitucionalmente garantido aos trabalhadores, que é o direito à greve. Qualquer das motivações merece censura e merece ser alvo de uma análise cuidada e ponderada, para que pelo menos não se repitam situações destas", defendeu o presidente do SFJ.
A tentativa de minorar os impactos da greve de hoje com o ofício da DGAJ -- que determinava a realização as diligências necessárias para a tramitação dos processos, incluindo a emissão de mandados de libertação até quinta-feira, para que a sua execução pudesse ter efeitos a partir de hoje -- foi uma das questões levantadas num conjunto de três remetido pelo grupo parlamentar do PSD à ministra da Justiça Catarina Sarmento e Castro na quinta-feira.
No mesmo dia, o Sindicato dos Oficiais de Justiça (SOJ) veio pedir ao Conselho Superior da Magistratura (CSM) que faça cessar a comissão de serviço da diretora-geral da DGAJ, o que na prática se traduziria na saída do cargo. A DGAJ reagiu à polémica por comunicado, no qual defendeu o ofício como um instrumento que pretendia apenas acautelar a identificação de processos abrangidos e executar a lei em tempo útil.
Mais do que uma questão de demissão do cargo, António Marçal olha para a polémica como "uma questão de políticas": "A experiência vai-nos dizendo que há muitos atos praticados no setor da Justiça que podiam ter tido uma análise cuidada da parte de quem manda do lado do Governo".
O presidente do SFJ põe a ênfase na resolução dos problemas da classe, sublinhando que a preocupação se centra em aspetos como a certeza de que os 200 oficiais de justiça que hoje aceitaram tomar posse "tenham condições para pagar as suas despesas ao fim do mês", referindo ainda que a adesão à greve de hoje "demonstra a insatisfação dos trabalhadores face à desconsideração a que estão a ser votados pelo Ministério da Justiça".
Sobre o anúncio de que "nos próximos dias" será publicado no Boletim do Trabalho e Emprego o projeto de revisão dos estatutos profissionais dos oficiais de justiça, António Marçal sublinhou que o sindicato ainda desconhece a proposta.
"Aquilo a que assistimos hoje foi a mais um anúncio. Ainda não vimos nada. Estaremos calmamente a aguardar que esse documento nos seja entregue para analisar e entretanto mantém-se o calendário de greves que foram aprovadas no dia 14 de julho", disse.
"Assim que o MJ começar a apresentar propostas concretas, nós cá estaremos para pôr fim à luta e analisar e negociar sem nenhuma reserva mental aquilo que melhor sirva os trabalhadores e também o sistema de Justiça em Portugal", acrescentou.
O dia de greve de hoje termina com a garantia de que a próxima semana arranca com novas paralisações, que vão decorrer em todo o país, em diferentes formatos, e à qual se junta, na segunda-feira, uma greve nacional, ao longo de todo o dia, convocada pelo SOJ.
"Nós fechámos antes das férias judiciais com uma greve, estamos a reabrir infelizmente com uma nova greve e esperamos que o MJ, ao fim de todos estes meses de contestação, comece finalmente a dar respostas àquelas que são as nossas reivindicações que o próprio MJ diz que são justas e razoáveis", disse António Marçal.
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