"O suicídio tem quase sempre por trás uma perturbação mental"

O psiquiatra Daniel Sampaio alertou hoje para a importância de se falar sobre suicídio, lembrando que todos os dias três pessoas põem termo à vida em Portugal, sendo que muitas dessas mortes podem ser evitadas.

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Lusa
09/09/2023 07:15 ‧ 09/09/2023 por Lusa

País

Saúde mental

Na véspera de se assinalar o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, Daniel Sampaio afirmou à agência Lusa que todos os anos cerca de 900 pessoas se suicidam em Portugal, um número que disse não ser "muito alarmante comparando com outros países", mas o "ponto importante" é que "muitas dessas mortes são evitáveis".

"O suicídio tem quase sempre por trás uma perturbação mental, particularmente a depressão, e quando nós conseguimos detetar precocemente os sinais de depressão e tratarmos a depressão, estamos a fazer a prevenção do suicídio", defendeu Daniel Sampaio, um dos rostos da campanha "Viva! Para lá da depressão".

A campanha visa promover a saúde mental e quebrar o estigma associado à doença mental de uma forma positiva e diferenciadora, promovendo a literacia dos portugueses sobre o tema.

Para isso, defendeu ser "muito importante" haver consultas de psiquiatria "mais facilmente disponíveis" e "urgências de psiquiatria mais bem apetrechadas em números técnicos", para se poder fazer o tratamento da depressão e, a partir daí, a prevenção do suicídio.

O especialista ressalvou que existem urgências de psiquiatria em todos os distritos do continente, nos Açores e na Madeira, mas assinalou que "não podem resolver tudo", defendendo por isso que haver mais consultas de psiquiatria, psicologia e pedopsiquiatria no Serviço Nacional de Saúde "é uma prioridade nacional".

Alertou também para a importância dos cidadãos não se afastarem das pessoas que falam de suicídio, sublinhando que é preciso desmitificar a ideia de que quem fala de suicídio não o comete, porque "isso não é verdade".

"A pessoa que está com ideias de suicídio sente que é única no mundo que ninguém a compreende que ninguém a ouve. E se tiver uma pessoa próxima que a escute, essa pessoa sente-se menos sozinha, menos desesperada. Portanto, é preciso dizer que devemos estar próximos das pessoas que falam de suicídio e devemos falar desse tema, embora seja um tema difícil", reconheceu.

Daniel Sampaio disse ainda que as pessoas têm dificuldade em falar dos seus sintomas de depressão, porque ainda existe o estigma de ter uma perturbação mental.

Há ainda outra ideia errada que Daniel Sampaio disse ser preciso combater e que se prende com o facto de as pessoas pensarem que se falarem de suicídio com quem está a pensar cometer este ato, a pessoa suicida-se mais rapidamente, o que, vincou, "é exatamente o contrário".

Vários estudos indicam que o número de tentativas de suicídio é cerca de 25 vezes superior ao número de suicídios, uma questão que o psiquiatra disse que deve ser tomada em linha de conta e valorizada, porque quem tentou fazê-lo tem mais probabilidade de se suicidar do que quem nunca tentou.

Há, contudo, pessoas que depois uma tentativa de suicídio conseguem organizar-se de forma diferente na relação consigo próprio e com os outros, sobretudo se tiverem acompanhamento psiquiátrico e psicológico, daí a importância de dar rapidamente uma resposta a quem sobreviveu ao suicídio ou quem está a pensar cometer este ato.

Em caso de necessidade, as pessoas podem contactar o 112, o Serviço de Aconselhamento Psicológico do SNS 24 (808 24 24 24), a Linha SOS Voz Amiga (213 544 545; 912 802 669; 963 524 660), Telefone da Amizade (222 080 707), Conversa Amiga (808 237 327, 210 027 159), Voz de Apoio (225 506 070) e Vozes Amigas de Esperança de Portugal (222 030 707).

Leia Também: Psicólogos defendem "regulamentação" de 'apps' móveis de saúde mental

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