Elisabete Nunes é o rosto de milhares de trabalhadores que todos os dias garantem o funcionamento das escolas. "Somos telefonistas, porteiras, empregadas da cantina, enfermeiras... Somos polivalentes", exemplificou a mulher de 47 anos, que já passou metade da vida a trabalhar em escolas.
"Estou neste agrupamento há 23 anos e ganho pouco mais do que o ordenado mínimo", desabafou a assistente operacional da Escola EB2/3 dos Olivais, em Lisboa, explicando que o "pouco mais" são nove euros.
O Sindicato Nacional dos Profissionais da Educação (Sinape) estima que haja mais de 35 mil assistentes operacionais nas escolas de todo o país e que cerca de 90% estejam no equivalente ao primeiro escalão, como Elisabete Nunes.
Estar no 1.º escalão significa que, feitos os descontos, levam para casa 606,23 euros, segundo o secretário-geral do Sinape, Francisco Pinto: "São pessoas que trabalham, mas são pobres".
"Eu tenho o mesmo ordenado há mais de 20 anos, sendo que está tudo mais caro: a alimentação está mais cara, as rendas das casas estão mais caras. O meu ordenado dá apenas para os primeiros dez dias do mês", lamentou a funcionária em declarações à Lusa.
A irmã de Elisabete também era assistente operacional numa escola de Lisboa e decidiu emigrar. "Hoje vive muito melhor", garantiu Elisabete, que só não se vai embora porque o pai está doente e precisa de apoio.
"Até um aluno da primária sabe fazer estas contas. Com estes ordenados não dá para viver", disse.
Francisco Pinto diz que existem muitas histórias semelhantes à de Elisabete um pouco por todo o pais e por isso, hoje, os trabalhadores escolares decidiram parar para "chamar a atenção do poder político e dos partidos".
Na véspera da entrega no parlamento do Orçamento de Estado, o Sinape voltou a alertar para os baixos salários dos trabalhadores não docentes: Feitos os descontos, a maioria dos assistentes operacionais recebe apenas 606,23 euros, os assistentes técnicos do 1.º escalão recebem 683,43 euros e os técnicos superiores 918,68 euros, contou Francisco Pinto.
Hoje de manhã, a adesão à greve era de 65%, segundo um primeiro balanço feito pelo sindicato.
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