O primeiro-ministro António Costa demitiu-se esta terça-feira de funções depois do Ministério Público ter revelado que é alvo de investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) sobre projetos de lítio e hidrogénio, tendo avançado ainda que não se irá recandidatar ao cargo.
Leia abaixo o discurso de António Costa na íntegra:
Muito boa tarde. Ao longo destes quase oito anos em que exerço funções como primeiro-ministro, dediquei-me de alma e coração a servir Portugal e a servir os portugueses. Naturalmente, estava totalmente disposto a dedicar-me com toda a energia a cumprir o mandato que os portugueses me confiaram até ao termo desta legislatura.
Fui hoje surpreendido com a informação oficialmente confirmada pelo gabinete de imprensa da Procuradoria-Geral da República de que já foi ou irá ser instaurado um processo-crime contra mim. Obviamente, estou totalmente disponível para colaborar com a Justiça em tudo o que entenda necessário para apurar toda a verdade seja sobre que matéria for.
Quero dizer, olhos nos olhos aos portugueses, que não me pesa na consciência a prática de qualquer ato ilícito ou sequer de qualquer ato censurável. Como sempre, confio totalmente na Justiça e no seu funcionamento. A Justiça que servi ao longo de toda a minha vida e cuja independência sempre defendi.
É, porém, meu entendimento que a dignidade das funções de primeiro-ministro não é compatível com qualquer suspeição sobre a sua integridade, a sua boa conduta e, menos ainda, com a suspeita da prática de qualquer ato criminal. Por isso, nesta circunstância, obviamente, apresentei a minha demissão a Sua Excelência, o Senhor Presidente da República.
Neste momento, permitam-me agradecer, em primeiro lugar, aos portugueses pela confiança que em mim depositaram ao longo destes anos e pela oportunidade que me deram de liderar o país em momentos tão difíceis quanto exaltantes. Quero agradecer a todos os titulares do órgãos de Soberania, ao Senhor Presidente da República e à Assembleia da República pela forma como sempre mantivemos uma saudável solidariedade institucional, agradecer às regiões autónomas, agradecer às autarquias locais e aos parceiros sociais a forma como agimos coletivamente em prol do nosso país. Quero agradecer muito reconhecidamente a todas e a todos aqueles que serviram nos meus três Governos. Quero dirigir uma palavra de simpatia e de gratidão para com todos os líderes e dirigentes partidários dos partidos da oposição, dos partidos que durante vários anos comigo mantiveram um acordo de incidência parlamentar e, muito especialmente, como é óbvio, ao Partido Socialista.
Por fim, uma palavra muito sentida de agradecimento à minha família, muito em especial à minha mulher, por todo o apoio, todo o carinho e os muitos sacrifícios pessoais que passou ao longo destes oito anos.
Esta é uma etapa da vida que se encerra e que encerro com a cabeça erguida, a consciência tranquila e a mesma determinação de servir Portugal e os portugueses, exatamente da mesma forma como no dia em que aqui entrei pela primeira vez como primeiro-ministro.
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