"Muito lamentável, o facto de terem cancelado a atividade cirúrgica adicional e isso é absolutamente lamentável, porque quem sai prejudicado desta situação são os detones e, os doentes, em nenhum momento podem ficar prejudicados", afirmou Carlos Cortes.
No final de uma reunião com o conselho de administração da Unidade Local de Saúde da Guarda, o bastonário assumiu aos jornalistas que a ordem "vai tomar uma posição" sobre este hospital e o de Santarém onde "também houve casos" de cancelamento.
"Vamos remeter esta situação, como outras que possam estar a acontecer noutros hospitais, à entidade reguladora da saúde e à inspeção-geral das atividades em saúde para analisarem se é correto, nós entendemos que não é correto", considerou.
As cirurgias adicionais são as realizadas por equipas de profissionais fora do horário de trabalho, e pagas por unidade de produção, independentemente do tempo afeto à mesma.
Mais de 2.500 médicos entregaram pedidos de escusas às horas extras após cumprirem as 150 horas anuais como exige a lei.
Carlos Cortes disse que se "fala muito em questões éticas", e, neste momento, "nas dificuldades que existem no Serviço Nacional de Saúde (SNS), haver médicos disponíveis para a atividade cirúrgica adicional e ela ser cancelada, prejudicando, não os médicos, mas sobretudo os doentes que necessitam dessas cirurgias.
"Sabemos que o país tem um problema de lista de espera cirúrgica e estar a acrescentar dificuldades a esta lista de espera cirúrgica demonstra, em primeiro lugar, uma grande insensibilidade e uma grande incompetência para gerir um hospital desta dimensão", acusou.
O bastonário adiantou que a situação "já foi reportada para o Ministério da Saúde, que tinha obrigação, obviamente, de atuar".
"Defender os doentes, neste caso em concreto, são doentes que estão numa lista de espera cirúrgica, e defender os doentes é permitir que eles sejam operados", destacou.
O bastonário escusou-se a dizer qual a posição do conselho de administração da Unidade Local de Saúde da Guarda, com quem esteve reunido mais de uma hora, mas afirmou que mostrou "o incómodo" da instituição que representa perante esta questão.
"São os doentes que são prejudicados, não é mais ninguém, e não podemos estar a brincar, não podemos tratar estes assuntos de forma leviana como estão a ser tratados [...] e este hospital tem capacidade de dar resposta à lista de espera", acusou.
A diretora clínica da Unidade Local de Saúde da Guarda, Fátima Cabral, esclareceu os jornalistas que o conselho de administração "apenas cumpre a legislação".
"Não sendo possível fazer cirurgias em base, sem risco para o doente, a cirurgia sendo feita fora do horário normal de serviço, ou no horário base, tem o mesmo risco para o doente e foi apenas isso que foi tido em causa", justificou.
Fátima Cabral disse que a administração "não teme" uma avaliação diferente por parte entidade reguladora e da inspeção, realçando que o hospital "cumpre as regras".
"Tendo o diretor do serviço de cirurgia dito que era um risco estar a operar doentes, porque podia haver a necessidade de uma intervenção e não havia anestesia os sete dias da semana, porque não sabemos quando é que um doente precisa, pode ser ao fim de semana, por isso mesmo, iria apenas fazer intervenções de ambulatório ou de risco mínimo", acrescentou.
Assim, continuou, "nestes casos, não seria possível cumprir a admissão de doentes para cirurgia adicional recorrendo à lista de espera dos doentes inscritos".
Fátima Cabral admitiu que "não é uma iniciativa desta administração, isto ocorre em vários sítios do país" e, no seu entendimento, "não é de todo uma retaliação ou um movimento contra os médicos, é mesmo em defesa do doente que é prioridade" do hospital.
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