A pequena Nour Ashour, a bebé luso-palestiniana que sobreviveu a três bombardeamentos israelitas e viu a família ser morta à sua volta, conheceu finalmente o pai em Lisboa e poderá mesmo ter alta esta quinta-feira, depois de os exames médicos realizados esta manhã no Hospital de Santa Maria revelarem resultados positivos.
Nour chegou a Lisboa pelas 20 horas de quarta-feira, através de um voo proveniente do Egito, depois de passar a fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito ao cuidado da Cruz Vermelha. Segundo confirmou a RTP, a menina foi internada para exames médicos e encontra-se estável.
No entanto, explica ainda a RTP, está a ser também avaliada a alta social e as condições necessárias para que a menina saia do hospital e possa viver com o pai, Ahmed Ashour, que está em Portugal há nove anos e tem nacionalidade portuguesa. A situação está a ser avaliada por assistentes sociais no Hospital de Santa Maria, bem como pela Santa Casa da Misericórdia e a junta de freguesia lisboeta onde Ahmed vive.
O pai descreveu o facto de a criança ter sobrevivido como "um milagre". A bebé, com pouco mais de um ano, sobreviveu com a família a um primeiro bombardeamento. Com a mãe e os dois irmãos mais velhos, a família deslocou-se para o sul da Faixa de Gaza - tal como Israel ordenou a população palestiniana, enquanto prossegue com operações no norte -, mas, à semelhança do que tem acontecido com milhares de palestinianos, o seu abrigo no sul foi novamente atacado.
Nesse segundo ataque, a menina sobreviveu, mas a mãe e os irmãos foram mortos. A criança ficou então ao cuidado dos avós, tios e primos, mas um terceiro bombardeamento matou a família quase toda.
Apenas a pequena Nour sobreviveu.
"O que estão a cometer em Gaza é uma limpeza étnica"
Ahmed Masour assistiu de longe à situação na Faixa de Gaza e às dificuldades atravessadas pela família. A partir de Lisboa, onde vive há nove anos, Ahmed viu a mulher e dois filhos morrer na quarta-feira da semana passada; três dias depois, viu o mesmo acontecer aos seus pais.
Em entrevista à SIC, o luso-palestiniano acusou as forças israelitas de matarem a sua família e questionou as ações do governo israelita contra civis, dando o exemplo dos seus pais (e avós da sua filha), que tinham cerca de 70 anos e acrescentando que "foi muito complicado reconhecer as pessoas", aludindo ao facto de muitos civis, incluindo crianças, escreverem os seus próprios nomes nas mãos e braços para poderem ser reconhecidos.
"As ações são genocidas, o que estão a cometer em Gaza é uma limpeza étnica. Peço desculpa, mas não vou mentir", disse, recusando a concordar se o estado israelita é "terrorista", conforme acusou o presidente turco. "Não comento o Estado de Israel, mas matar pessoas em massa, matar crianças, é", apontou.
Masour veio para Portugal como estudante de Erasmus. É engenheiro civil e aluno de doutoramento no Instituto Superior Técnico mas, sem emprego, sem salário e em risco de despejo, dependia do dinheiro que família enviava para sobreviver. A mulher voltou à Faixa de Gaza após uma doença grave de uma das crianças mais velhas e por lá ficou, onde deu à luz Nour.
À SIC, Ahmed Masour não deixou de criticar as autoridades portugueses, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros em particular, afirmando que o Governo "podia fazer mais esforços para tirar a minha filha mais rapidamente".
"Estamos a falar de dois dias. Dois dias faziam uma diferença grande na minha vida", lamentou.
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