"Falar agora do reconhecimento do estado palestiniano não é relevante. Neste momento estamos a enfrentar uma organização terrorista para trazer segurança para o povo israelitas, mas também para os palestinianos (...) Deixem-nos agora acabar o trabalho e depois falamos sobre o futuro", afirmou Dor Shapira na rede num vídeo hoje divulgado na sua conta na rede X, antigo Twitter.
O diplomata questionou também a existência de interlocutor para o diálogo, referindo que a Faixa de Gaza "é controlada pelo terror" do Hamas e a Autoridade Palestiniana "nem sequer conseguiu condenar o que se passou em 07 de outubro", dia em que o movimento islamita massacrou, segundo as autoridades Telavive, 1.200 pessoas e raptou mais de 240.
"Acreditem em mim, o futuro de Israel e dos palestinianos, com todo o respeito pelos deputados e de toda a gente, é muito mais importante para mim do que para eles. É o futuro dos meus filhos, não dos vossos filhos", declarou.
A Assembleia da República votou na terça-feira oito resoluções, sem força de lei, num debate marcado pelo Livre, intitulado "Solução de dois Estados e o reconhecimento da independência da Palestina", mas apenas foram aprovadas as recomendações ao Governo de PS, PAN e Livre nesta matéria.
O projeto do PS foi o mais consensual -- com votos a favor dos proponentes, PSD, IL, BE, PAN e Livre, abstenções de Chega e PCP -- e recomenda ao Governo "todos os esforços diplomáticos para defender a criação do Estado da Palestina, a par da existência do Estado de Israel", defendendo o respeito pelas resoluções das Nações Unidas relativas ao conflito israelo-palestiniano e "a existência de dois Estados viáveis e sustentáveis".
O Livre viu também aprovada uma recomendação "contra a escalada da guerra em Israel e na Palestina" e um apelo ao cessar-fogo imediato, tal como o PAN que pede o "fim imediato do conflito israelo-palestiniano e uma paz duradoura, com a efetivação da solução dos dois estados".
A este respeito, Dor Shapira defendeu que não se deve introduzir neste momento "discussões hipotéticas" sobre um estado palestiniano nem sobre o cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde a ofensiva israelita por terra, mar e ar já provocou mais de vinte mil mortos, entre os quais oito mil crianças e 6.200 mulheres, e 52.600 feridos, de acordo com números das autoridades locais controladas pelo Hamas, e cerca de 1,9 milhões de deslocados, segundo a ONU.
"Neste momento devemos comprometer-nos e empenhar em resolver o problema que temos, a ameaça que os israelitas têm e para ter a certeza de que voltamos a ter segurança e a proteção para o povo de Israel e trazer de volta os reféns para casa", observou o embaixador em declarações proferidas no dia em que o parlamento debateu a crise no Médio Oriente mas apenas hoje divulgadas, acrescentando que essa é a obrigação de Israel para com o seu povo e que, "se Portugal estivesse na mesma situação faria exatamente o mesmo".
Em 06 de dezembro, Dor Shapira afirmou que Portugal segue a União Europeia (UE) em relação ao Estado da Palestina e que a sua posição não se alterou.
"Em relação à questão do reconhecimento do Estado palestiniano, a posição de Portugal segue a linha da UE e neste momento a UE ainda não reconheceu o Estado palestiniano, portanto não vejo qualquer mudança nisso", afirmou então o diplomata israelita, durante uma conferência de imprensa em Lisboa de familiares de reféns com nacionalidade portuguesa em posse do Hamas desde 07 de outubro.
O diplomata comentava declarações à Lusa do ministro dos Negócios Estrangeiros sustentando que o reconhecimento do Estado da Palestina "é algo que deve acontecer", mas em coordenação com "alguns parceiros próximos" e num "momento com consequência para a paz".
"Nós olhamos para o reconhecimento não como algo que pode acontecer, mas como algo que deve acontecer, sendo ainda para já indeterminado o momento correto em que deve acontecer", declarou João Gomes Cravinho, a propósito da posição do chefe do Governo espanhol e atual presidente do Conselho da União Europeia (UE), Pedro Sánchez, que admitiu a possibilidade de Espanha reconhecer o Estado palestiniano unilateralmente, à margem da UE e de outros Estados-membros do bloco comunitário.
Desde o início da guerra, os combates na Faixa de Gaza só foram interrompidos durante uma semana - entre 24 e 30 de novembro - durante uma trégua mediada pelo Qatar, Egito e Estados Unidos, que incluiu a libertação de 105 reféns detidos pelo Hamas em troca de 240 prisioneiros palestinianos e a entrada de ajuda humanitária no enclave.
Cerca de 130 reféns permanecem em cativeiro no território palestiniano, onde a população deslocada sobrevive em tendas em pleno inverno e numa profunda crise humanitária, devido ao colapso dos hospitais, ao surto de epidemias e à escassez de água potável, alimentos, medicamentos, eletricidade e combustível.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reafirmou na quarta-feira que Israel continuará "a guerra até ao fim", diluindo as esperanças de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, no dia em que era esperado o reatamento de negociações com o Hamas.
"Continuamos a guerra até o fim. Ela continuará até que o Hamas seja eliminado, até à vitória", insistiu Netanyahu numa mensagem de vídeo.
O Hamas e outras fações palestinianas rejeitaram hoje a possibilidade de iniciar conversações sobre a libertação de pessoas raptadas durante os ataques de 07 de outubro, a menos que haja "uma cessação da agressão" israelita.
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