No mês de janeiro a terra tremeu várias vezes em Portugal. Até agora, o maior sismo ocorreu no dia 14 de janeiro na ilha Terceira, nos Açores, onde um sismo de magnitude 4,5 na escala de Richter trouxe à população memórias do trágico sismo de 1998, que matou nove pessoas, feriu centenas de outras e deixou milhares sem teto na ilha do Faial.
Mas não foi só na Terceira que houve terramotos. Em menor escala, a terra tem tremido também em São Miguel e São Jorge e já abanou este mês igualmente em Beja e na zona do Madeira – Tore, um monte submarino que liga a ilha da Madeira ao monte Tore, localizado entre o arquipélago e Portugal Continental.
Algo normal, como explica ao Notícias ao Minuto a geóloga Rita Carmo do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) e do Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos (IVAR). "Quando há movimentação numa falha, é natural que se gerem tensões em estruturas tectónicas adjacentes, podendo gerar novos sismos, até se atingir uma nova estabilidade (durante algum tempo)", explica.
"Por vezes, alguns setores destes limites ficam bloqueados durante algumas centenas de anos, permitindo uma elevada acumulação de tensão. Quando ocorre rotura, a tensão acumulada até então é libertada subitamente, originando sismos com elevado potencial destrutivo. Contudo, a sismicidade não se encontra restrita a estas zonas de fronteira, ocorrendo também em ambientes intraplaca", esclarece a especialista em vulcanologia.
Contudo, apesar de a grande maioria dos sismos resultar da acumulação de tensões de origem tectónica, existe igualmente sismicidade associada a atividade vulcânica, refletindo a rotura das rochas à passagem de fluidos magmáticos em regiões onde se verifica vulcanismo ativo. "Estes sismos apresentam, habitualmente, menores magnitudes e surgem agrupados no tempo e no espaço, dando origem a crises sísmicas ou enxames sísmicos", explica ainda.
Já a distribuição geográfica da sismicidade não é, segundo Rita Carmo, de todo "aleatória" e "tende a ocorrer ao longo de faixas bem definidas", correspondentes às fronteiras das placas tectónicas. Os movimentos relativos entre placas tectónicas adjacentes, sejam elas convergentes, divergentes ou de falhas transformantes, dão origem a sismos ao longo dos seus limites.
Nos Açores, por exemplo, a terra treme porque as ilhas estão localizadas na zona de contacto entre as placas litosféricas Norte-Americana, Eurasiática e Africana, a Junção Tripla dos Açores.
Já Portugal Continental, que se localiza na placa Eurasiática, que está limitada a oeste pela Crista Média Atlântica e a sul pela Zona de Falha Açores-Gibraltar, abana porque a ocidente, ao nível da Crista Média Atlântica, existe "movimentação divergente das placas, com a Placa Norte-Americana a deslocar-se para oeste, e a placa Eurasiática a deslocar-se para leste. A sul, verifica-se a convergência entre as placas Eurasiática e Africana, resultando numa faixa de deformação difusa e intensa sismicidade. Aliás, os sismos mais destruidores que atingiram o território continental tiveram origem nesta zona", recorda a especialista do CIVISA e IVAR.
Além da sismicidade registada ao nível das áreas adjacentes, regista-se também sismicidade, mais moderada, no interior do continente, em ambiente intraplaca, pois o território continental é atravessado por várias falhas ativas, capazes de gerar sismos. São exemplos a falha do Vale Inferior do Tejo, relacionada com o sismo de Benavente de 23 de abril de 1909, a falha da Vilariça que originou os sismos de 19 de dezembro de 1751 e de 19 de março de 1858, a falha de Nazaré-Pombal, possivelmente a fonte sísmica dos sismos de 1528 e de 21 de fevereiro de 1890, ou a falha de Loulé, a que provavelmente estão associados os sismos de novembro de 1587 e de 12 de janeiro de 1856.
O que é um sismo?
Mas, afinal, o que é um sismo? De acordo com Rita Carmo, um sismo, tremor de terra ou terramoto, "corresponde a uma libertação súbita de energia acumulada na crosta terrestre, quando a força/tensão exercida sobre uma rocha ultrapassa o seu limite de elasticidade, provocando a sua rotura e dando origem a uma vibração brusca e momentânea da superfície da Terra. Parte dessa energia é libertada sob a forma de calor e a restante sob a forma de ondas sísmicas. É a propagação das ondas sísmicas na crosta terrestre, a partir do foco (ou hipocentro), que induz movimento em todas as direções às partículas constituintes do meio".
Já quanto à teoria de que estes pequenos sismos que têm acontecido ao longo do mês de janeiro são "bom sinal" porque evitam os maiores e mais destruidores, a especialista desmistifica: "uma mesma falha tectónica pode gerar sismos de maior magnitude (grandes), sismos de menor magnitude (pequenos) e sismos de magnitude moderada (intermédios), fazendo todos eles parte da história evolutiva dessa estrutura tectónica, e a ocorrência de uns influencia, mas não impede a ocorrência dos outros".
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