À porta do Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, na pausa para o almoço, Paulo Sá e Cunha disse aos jornalistas que o interrogatório a Pedro Calado tinha decorrido "durante a manhã" e terminado "antes da pausa para o almoço".
"Estamos no décimo sexto dia de detenção para interrogatório, naturalmente que está cansado, estamos todos cansados. São 16 dias de diligências intensas que exigem uma concentração intensa e uma dedicação exclusiva", afirmou Paulo Sá e Cunha.
Ainda segundo o advogado de Pedro Calado, é possível "que hoje se entre na promoção das medidas de coação".
"Há pontos, ideias do rendimento das pessoas que a meu ver atingimos ontem esse ponto. Estamos a entrar numa zona perigosa, temos mesmo que nos despachar", sublinhou.
Antes, cerca das 11h15, fonte judicial tinha indicado aos jornalistas que o interrogatório ao ex-presidente da Câmara do Funchal tinha terminado, e que este não iria "responder a mais perguntas", tendo o juiz convocado os restantes advogados do processo para as alegações.
Uma hora mais tarde, André Navarro de Noronha, que representa o empresário Custódio Correia, disse aos jornalistas tinha sido chamado por ter terminado o interrogatório que decorria a Pedro Calado.
Pelas 14h20, à entrada para a sessão da tarde, Paulo Sá e Cunha reafirmou que o interrogatório tinha terminado antes da pausa para o almoço e que Pedro Calado tinha "respondido ao juiz durante dois dias e meio", acrescentando que a defesa tinha abdicado dos pedidos de esclarecimento.
Questionado se o ex-autarca tinha respondido ao Ministério Público, Sá e Cunha reiterou que o seu cliente tinha respondido "a todas as perguntas do juiz".
Pedro Calado foi o terceiro suspeito a ser ouvido no âmbito de um processo que investiga suspeitas de corrupção na Madeira, depois dos empresários Custódio Correia, principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, e Avelino Farinha, líder do grupo de construção AFA.
A Polícia Judiciária (PJ) realizou, em 24 de janeiro, cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em várias zonas do continente, no âmbito de um processo que investiga suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência.
Na sequência das buscas, a PJ deteve o então presidente da Câmara do Funchal Pedro Calado (PSD), que renunciou ao mandato, Avelino Farinha e Custódio Correia.
A operação também atingiu o ex-presidente do Governo Regional da Madeira Miguel Albuquerque (PSD), que foi constituído arguido e renunciou ao cargo, o que foi formalmente aceite pelo representante da República na segunda-feira e publicado em Diário da República no mesmo dia.
De acordo com documentos judiciais a que a Lusa teve acesso, o Ministério Público refere que o ex-presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, o ex-presidente da Câmara Municipal do Funchal Pedro Calado (PSD) e o líder do grupo de construção AFA, Avelino Farinha, estabeleceram, "ao longo do tempo, uma relação de particular proximidade e confiança" que terá beneficiado aquele grupo empresarial "ao arrepio das regras da livre concorrência e da contratação pública".
Entre os contratos alvo de investigação criminal, de acordo com os documentos judiciais estão a concessão de serviço público de transporte rodoviário de passageiros na ilha da Madeira, a concessão do Teleférico do Curral das Freiras, o projeto da Praia Formosa e o Funchal Jazz 2022-2023.
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