Inácio Mandomando, coordenador da área das doenças bacterianas, virais e outras tropicais negligenciadas do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) de Moçambique, falava à Lusa à margem de uma visita que realizou esta semana ao Instituo de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em Lisboa.
O investigador realizou esta visita no âmbito da defesa de Doutoramento em Ciências Biomédicas de Marcelino Garrine, investigador do CISM, a par da sua entrada oficial como membro do centro de Saúde Global e Medicina Tropical (GHTM, sigla em inglês para Global Health and Tropical Medicine).
Mandomando recordou que, antes do ressurgimento de surtos de cólera em Moçambique, o seu número estava a diminuir.
Esta diminuição foi interrompida após as cheias que no ano passado atingiram Moçambique e que foram "um dos fatores de risco para a eclosão dessas doenças".
"As chuvas são principalmente fontes de surgimento de doenças transmitidas pelo consumo de água e outros alimentos" infetados, explicou.
Para estes fenómenos climáticos cada vez mais intensos contribuem, acredita o investigador, as mudanças climáticas.
Inácio Mandomando reconhece avanços nas respostas que a ciência dá às doenças bacterianas, virais e até mesmo às tropicais negligenciadas, mas sublinha que a chave do sucesso está mesmo na prevenção.
"Enquanto não conseguirmos melhorar as condições de higiene e saneamento, continuaremos a ter desafios no tratamento da cólera", afirmou.
"É certo que já existem vacinas, que têm sido usadas durante os surtos de cólera" que evitam "casos mais graves ou que terminem em óbitos ou mesmo na sua propagação", disse o coordenador da área das doenças bacterianas, virais e outras tropicais negligenciadas do CISM de Moçambique.
Mas "no final do dia, continuamos com a mesma forma de tratar e também de prevenir, aconselhando e educando as comunidades a aderirem à higienização das mãos, enquanto lutamos para melhoria das condições de higiene e saneamento que é a chave contra a propagação da cólera", insistiu.
Mandomando dá o exemplo na província de Zambézia que, no ano passado, foi afetada por um ciclone.
"Depois do ciclone, as famílias foram dispersadas das suas casas e estiveram em acampamentos, onde as condições de higiene não eram as mais adequadas e isso também foi fonte de eclosão da cólera", indicou.
De acordo com o boletim sobre a progressão da doença em Moçambique, elaborado pela Direção Nacional de Saúde Pública daquele país africano, consultado na semana passada pela Lusa, até 31 de janeiro estava contabilizado no país um acumulado de 10.859 casos de cólera desde 01 de outubro último.
No boletim anterior, com dados até 29 de janeiro, o acumulado era de 10.589 casos de cólera, que provocaram até então 25 mortos.
Desde o início de janeiro que não se registavam oficialmente óbitos por cólera em Moçambique, mas no período de 29 a 31 de janeiro foi contabilizada a 26.º vítima mortal do atual surto, neste caso na província de Tete.
A taxa de letalidade da doença mantém-se atualmente em 0,2%, segundo os mesmos dados.
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