A noite de terça-feira ficou marcada não só pelo debate mais esperado no âmbito das eleições legislativas, mas também por um protesto de centenas de polícias junto ao Capitólio. A manifestação neste local não estava autorizada e a Polícia de Segurança Pública (PSP) vai comunicar os factos ao Ministério Público (MP).
Os elementos da PSP e da GNR estavam autorizados a concentrar-se esta segunda-feira à tarde junto ao Ministério da Administração Interna, na Praça do Comércio, em Lisboa, mas rumaram também ao teatro Capitólio, onde decorreu o debate entre os dois principais candidatos a primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro.
No trajeto, os manifestantes assobiaram e gritaram "Polícia unida jamais será vencida".
O protesto junto ao Capitólio foi marcado nas redes sociais pelo 'movimento inop' e não tem a participação da plataforma sindical de polícias, tendo sido também através das redes sociais que foram lançadas todas as diretrizes que os polícias deveriam seguir.
As reações: Governo "consciente" e candidatos disponíveis (Pedro Nuno alerta para "coação")
O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, elencou, numa resposta aos oficiais da PSP, os investimentos nos últimos anos em infraestruturas e salários, apelando a um "diálogo urbano, leal e construtivo" para continuar a "valorização dos profissionais".
"O Governo está consciente de que, tendo sido trilhado um importante caminho em matéria de valorização dos profissionais das forças de segurança, muito ainda há a fazer. E está, também, seguro de que os objetivos a atingir nesta matéria apenas podem ser fixados no contexto de um diálogo urbano, leal, frontal, franco e construtivo que, de forma direta, envolva os atores que se encontram no centro do debate político sobre os assuntos da segurança interna, com especial relevância para os sindicatos", pode ler-se, numa carta a que a agência Lusa teve acesso esta segunda-feira.
No debate, alertados e conscientes da presença dos polícias, os líderes do PS e do PSD reiteraram estar disponíveis para dialogar e chegar a um acordo sobre as reivindicações das forças de segurança após as eleições, mas Pedro Nuno Santos avisou que "não se negoceia sob coação".
"A mensagem é muito direta; nós concordamos com a reivindicação que os policias portugueses têm relativamente a uma injustiça que foi criada por este Governo", afirmou Luís Montenegro, reiterando que, "ato imediato" de um Governo que lidere, será iniciado um processo negocial "com vista a reparar esta injustiça", numa referência ao suplemento de missão atribuído à Polícia Judiciária e que as restantes forças de segurança reclamam.
Já o secretário-geral do PS recordou que também ele já se reuniu com a plataforma que representa estes profissionais.
"Considero importante que consigamos chegar a um acordo, as forças de segurança são fundamentais, mas quero deixar uma palavra de lamento", disse, referindo-se, implicitamente, ao facto de a manifestação junto ao Capitólio não ter sido comunicada previamente às autoridades, como exige a lei.
O líder socialista considerou fundamental respeitar o "direito à manifestação, mas também o direito ao debate político".
"Não se negoceia sob coação, temos disponibilidade total para chegar a um acordo, mas sempre no respeito pela legalidade", avisou.
PSP vai comunicar ao MP protesto de polícias junto ao Capitólio
O porta-voz da PSP disse que a concentração de elementos da PSP e GNR na Praça do Comércio estava autorizada e tinha sido comunicada à autoridade competente, que é a Câmara Municipal de Lisboa (CML).
No entanto, o mesmo não aconteceu com o desfile que se seguiu, pela Rua da Prata, Praça do Rossio e Avenida da Liberdade, e com a concentração junto ao Capitólio.
Os polícias só desmobilizaram no final do debate, com a saída dos candidatos. À passagem dos carros com Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos no final do debate eleitoral que decorreu no Capitólio, os cerca de cem polícias ainda concentrados gritaram "polícia unida jamais será vencida" e bateram uma salva de palmas.
Lembre-se que os elementos da PSP e da GNR estão em protesto há mais de um mês para exigir um suplemento idêntico ao atribuído à Polícia Judiciária.
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