O escritor e comentador Miguel Sousa Tavares argumentou, esta quinta-feira, que "estaria completamente angustiado" se o "massacre" que acusa Israel de estar a cometer na Faixa de Gaza fosse protagonizado "pelos portugueses".
"Não aceitaria que o meu governo estivesse a cometer estes crimes, fosse qual fosse a represália necessária. Isto é inaceitável. Não consigo perceber que todo o tempo vemos a condenação da Rússia na Ucrânia, mais e mais sanções pela Rússia, e em relação a Israel nem sequer pararam o fornecimento de armas a Israel, sabendo que as armas são usadas para este massacre", disse no seu espaço de comentário, na TVI.
Sobre as diferentes comparações que têm sido feitas entre o Holocausto e as ações de Israel na Faixa de Gaza, Sousa Tavares retorquiu: "Não foram os palestinianos que fizeram o Holocausto, foram os alemães. Os palestinianos não tiveram culpa, não estavam envolvidos nisso. Resolveram instalar ali o estado de Israel. Imagina que instalavam aqui? Éramos nós que estávamos no lugar dos palestinianos".
Nesta onda, o comentador e escritor argumentou, por isso, que "o estado de Israel devia-se ter instalado na Baviera, na Alemanha, porque eles é que foram os culpados do extermínio, não foram os palestinianos".
"Estamos em 2024 e estamos a ver crianças - que já morreram 12 mil dos bombardeamentos - a morrer de morte lenta, de fome, desidratação e doença. Isto é insustentável. Que raio de planeta é este? Que raio de civilização é esta?", questionou Miguel Sousa Tavares, argumentando que Telavive está "a passar para as gerações futuras de israelitas e de judeus o mesmo fardo que gerações de alemães tiveram de carregar depois da Segunda Guerra Mundial, e que alguns ainda têm, que é um fardo insuportável".
A guerra entre Israel e o Hamas, que continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 30.800 mortos, pelo menos 72.298 feridos e cerca de 7.000 desaparecidos soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais.
O conflito fez também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa crise humanitária, com toda a população afetada por níveis graves de fome que já está a fazer vítimas, segundo a ONU.
Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, territórios ocupados pelo Estado judaico, mais de 400 palestinianos foram mortos desde 7 de outubro pelas forças israelitas e em ataques perpetrados por colonos, além de se terem registado mais de 3.000 feridos e 6.650 detenções.
Nos ataques do Hamas de 7 de outubro morreram 1.163 pessoas. Outras 250 foram feitas reféns, 130 dos quais permanecem em cativeiro, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.
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