"Portugal é um dos melhores países para emigrar", diz ativista feminista

A antropóloga e ativista feminista Daniela Inojosa disse à Lusa que Portugal é um país amigável e com melhores oportunidades de trabalho para as mulheres que abandonam a Venezuela para escapar da crise política, económica e social.

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Lusa
10/03/2024 06:41 ‧ 10/03/2024 por Lusa

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Daniela Inojosa

"Ou seja, Portugal é um dos melhores países para emigrar, porque tem políticas internas que igualam os emigrantes aos nacionais [portugueses], e que lhes permitem ter oportunidades laborais decentes, dignas, em condições, mesmo quando não têm [visto de] residência", afirmou.

As declarações de Daniela Inojosa foram realizadas à margem de uma iniciativa da delegação da União Europeia (UE) na Venezuela, que assinalou o Dia Internacional da Mulher com vítimas de violência baseada no género, de sete freguesias de Caracas, num encontro em que foram abordados projetos financiados que garantam vidas dignas.

Um dos projetos será executado em 36 meses e conta com o apoio de quase um milhão de euros da UE, através da ONG Tinta Violeta, da Cooperativa Transformação, Mulheres e Comunidade (Tramuco) e de 52 empreendimentos de mulheres.

A mesma responsável, que é também diretora da ONG Tinta Violeta, explicou que os portugueses fazem com que "as desigualdades se equilibrem" e afirmou ainda que Portugal é um exemplo dos países com menos tráfico de mulheres.

"Portugal foi um povo de migrantes. Muitos portugueses migraram muito não apenas para a Venezuela, também para o Brasil, o México, para outros países do mundo e, sobretudo, para a América Latina. (...) A nossa relação cultural é muito mais próxima. Somos mais parecidos", frisou.

Daniela Inojosa sublinhou que tanto os que migram como os que os acolhem devem entender que os migrantes são importantes para o desenvolvimento da economia dos países, principalmente dos que "não estão a produzir tantos cidadãos nacionais" e que os imigrantes sustentam a Segurança Social local.

"Há países que ainda não fizeram contas, porque a população europeia está a envelhecer cada vez mais. E quando as pessoas envelhecem, precisam de apoio, de um sistema de Segurança Social que suporte esses cuidados. Há cada vez menos nacionais em idade ativa e são os migrantes a produzir para manter esse sistema de Segurança Social a funcionar, em movimento", disse.

Sobre a Tinta Violeta, explicou que é uma organização feminista que se dedica a combater a "violência baseado no género, a violência machista" e a fazer do "empoderamento económico das mulheres um caminho para sair da violência e que não dependam dos seus agressores".

"As mulheres avançaram muito, em muitos países, mas este progresso ainda não é tudo o que é necessário. Igualdade também significa equidade e a verdade é que não nascemos com as mesmas oportunidades nem as mesmas condições, e isso é muito mais grave para as mulheres pobres", disse.

E explicou que as mulheres fazem jornadas de trabalho em condições desiguais, obrigadas a dedicar mais tempo a outras coisas que não a elas próprias, ou aos seus projetos, e que têm de cuidar dos filhos.

"Vemos com muita preocupação a desigualdade das mulheres venezuelanas no estrangeiro, o medo que têm, a violência a que estão expostas. Muitas, quando não têm documentos legais para conseguir um emprego são forçadas a recorrer à prostituição, e muitas são violadas no estrangeiro porque são tidas como mais débeis e menos importantes do que as mulheres do país", disse.

Por isso é preciso fazer o mundo entender as desigualdades dos migrantes e como isso afeta as pessoas, principalmente o corpo das mulheres.

"Quando nós, mulheres, não temos mais nada para vender, vendemos o nosso corpo. E isto está a acontecer muito com as mulheres migrantes. É uma questão pela qual todos somos responsáveis. E temos de ver como garantir que migrar não significa entrar num ciclo de violência constante", disse.

Leia Também: Bispos pedem fim da perseguição e desqualificação política na Venezuela

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