Os alunos do Ensino Superior foram ‘convocados’ para, esta quinta-feira, e no âmbito do Dia Nacional do Estudante, saírem à rua para lutar por um ensino com mais qualidade, mais direitos e maior representatividade.
Uma luta que terá a rua como palco, o único lugar onde os alunos acreditam que se podem fazer ouvir, e que pretende recuperar os valores de Abril de 1974. É também uma luta que ganha cada vez mais importância numa altura em que o país vive uma mudança de governação. Esta é pelo menos a premissa defendida pela organização do evento, e que tem como um dos seus rostos o presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, Guilherme Vaz.
"Gritar" contra "panóplia de problemas" no Ensino Superior
"[Vamos] sair à rua em defesa de Ensino Superior público, gratuito, democrático e de qualidade, que não é o que se verifica, de longe", afirma Guilherme Vaz em entrevista ao Notícias ao Minuto. Segundo o aluno, o "Ensino Superior não está melhor ou igual do que o ano passado. Está pior" e isso, defende, vê-se quando "há residências a fechar, há alunos a ficar sem bolsa no meio do ano, a propina continua a existir", ou ainda "quando chove dentro das faculdades, quando as residências não têm condições, quando não há cantinas".
"Há uma panóplia de problemas que continuam sem resolução e que dificultam a travessia dos estudantes no Ensino Superior e barram a entrada de muitos outros que devido a estes problemas económicos - que acentuam a privatização do Ensino Superior - não conseguem ingressar no mesmo", argumenta, dando a sua receita para aquela que é a sua visão de um ensino de qualidade.
"[Ensino que] fomente o desenvolvimento do indivíduo , que não se preocupe apenas com o plano do estudo, ou seja, que não se restrinja àquilo que são as aulas, que promova o espírito crítico dos estudantes", afirma, indicando que será por isto que os alunos "vão gritar" nas ruas.
"A análise que fazemos que é a realidade do ensino português só permite tirar uma conclusão: [este] só se transforma através da luta", atira.
Resgatar os valores de Abril para a luta dos estudantes
"Queremos mais Abril aqui", é um dos motes que serve de base à manifestação que irá levar os estudantes até à Assembleia da República, esta quinta-feira.
Segundo explica Guilherme Vaz, a 'bandeira' não pretende ter um significado "revivalista" em que se pretende voltar a 1974, mas sim "trazer os valores de Abril para os dias de hoje".
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"Abril é um projeto que tem 50 anos, que tem muito mais futuro do que passado e que tem muito para ser construído. Tem é de ser defendido e cumprido", sublinha o presidente da Associação de Estudantes da FCSH, referindo que Abril defende-se "exatamente nas ruas".
"Nós estamos como estamos porque não se cumpriu Abril, porque não se olhou para o projeto de Abril e não se lhe deu corpo", reforça, apelando para que este "projeto de liberdade, projeto de aprofundamento", se "cumpra em vida".
Após eleições, estudantes ainda mais prontos para lutar
Outro ponto importante, é o facto de este ser o primeiro protesto dos estudantes após as eleições legislativas de 10 de março. Embora admita que a data escolhida nada tem que ver com as eleições, uma vez que em causa está o Dia Nacional do Estudante, que se assinala a 24 de março, Guilherme Vaz admite que os resultados das eleições fazem com que o protesto ganhe mais força.
"Olhamos para os projetos políticos que mais saíram vencedores nestas eleições, e que em nada corroboram com esta defesa de um ensino público, e diria até que os estudantes têm de estar ainda mais prontos para a luta nesta fase", defende, lembrando que as lutas dos estudantes têm tido sempre resultados.
"A luta dos estudantes empurrou os governos, num período especifico da governação, a reduzir as propinas, forçou a que existisse e fosse criado o Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior, que continua por cumprir", aponta, lembrando que os "estudantes não vão aceitar mais retrocessos" e que é necessário que haja uma maior representação de alunos "nos órgãos de gestão das instituições do Ensino Superior" para que possam dar o seu parecer e contribuo sobre as decisões em prol dos alunos.
A manifestação está marcada para esta tarde, com início pelas 14h30, no Rossio, em Lisboa, e foi organizada por todas as federações académicas do continente à exceção da Federação Académica do Porto (FAP). Entre as principais reivindicações estarão o fim das propinas e melhores condições no acesso à habitação estudantil.
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