Cerca de 90 pessoas juntaram-se num restaurante português na capital britânica, onde cantaram em coro, de pé e com cravos vermelhos na mão, "Grandola, Vila Morena", a canção que encapsula o espírito do espírito de Abril.
Folhas com as letras de música da época para permitir a todos participarem foram distribuídas pelas mesas, bem como um questionário de teste ao conhecimento sobre factos e curiosidades do antes e depois da queda da ditadura.
O evento foi organizado pelo grupo cívico Migrantes Unidos, que há cinco anos fundiu o seu almoço anual de comemoração do 25 de Abril com o encontro anual de um grupo de antigos opositores antifascistas residentes no Reino Unido para marcar a data.
Este ano, a adesão ultrapassou as expectativas.
Para João Martins, de 43 anos, esta foi a primeira presença neste evento, fazendo uma viagem de três horas de comboio de propósito para se associar à comemoração na companhia da filha de 13 anos.
"Como não pudemos celebrar em Portugal, quis fazê-lo com mais pessoas, e achei que era importante para a Kora saber mais sobre o dia mais importante da história de Portugal", contou à agência Lusa.
Martins cresceu em Unhos, Loures, numa família de ativistas políticos, pelo que se habituou a descer a Avenida da Liberdade nos desfiles do 25 de Abril.
O pai, que trabalhava na Fábrica da Loiça de Sacavém, chegou a ser preso por fazer greve e a mãe fez parte do Movimento Democrático de Mulheres (MDM).
Kora, de 13 anos, já tinha ouvido algumas histórias dos avós sobre o 25 de Abril, mas agora está a aprender mais sobre a importância e significado do acontecimento.
Na mesma mesa, Gerard e Sylvia Moreira marcam presença em memória do pai e marido, Claude Moreira, que morreu recentemente, mas que foi ativo nos grupos de oposição antifascista portugueses nos anos 1960 e 1970.
Claude Moreira filmou as manifestações durante a visita do então primeiro-ministro Marcelo Caetano a Londres em 1973 e era presença regular nos encontros anuais para marcar a Revolução dos Cravos.
"Normalmente as mulheres ficavam num canto da mesa e os homens no outro, a falar alto de política. Tinham muitas discussões", recordou Sylvia à Lusa.
Nos últimos anos de vida, Claude Moreira não pode comparecer aos almoços habituais por se encontrar doente, por isso Sylvia não conseguiu conter a emoção e chorou, consolada pelo filho, durante a leitura de um poema na sala.
O texto original foi escrito na quinta-feira por Sandra Guerreiro enquanto seguia as celebrações do 25 de Abril em Portugal pela televisão.
"Queria fazer uma coisa especial para o evento de hoje. Estava nervosa porque não costumo escrever coisas tão biográficas", confiou à Lusa.
Nascida em agosto de 1974, Guerreiro conta que sempre esteve consciente da importância da revolução.
A família era alentejana, onde existia um grande sentimento de resistência à ditadura, o pai foi sindicalista nos estaleiros da Setenave e emigrou para o Luxemburgo em 1973 por discordar com a guerra colonial.
Também Maria João Chuço recorda como o 25 de Abril marcou o fim da perseguição aos pais enquanto Testemunhas de Jeová, cujo culto era proibido durante o regime salazarista.
"Para mim é fundamental não esquecer o que é o 25 de Abril e como a vida era antes em Portugal", vincou.
Álvaro de Miranda, um dos fundadores do encontro original de antifascistas nos anos 1970 para comemorar o 25 de abril, mostrou-se satisfeito com o interesse no evento e espera que a participação elevada seja um sinal de continuidade.
"Duvido que seja possível juntar tantas vezes como hoje, mas esperemos que muitas pessoas continuem a vir nos próximos anos e trabalhem connosco noutras iniciativas", afirmou.
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