O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, considerou, esta quinta-feira, que tanto o Partido Socialista (PS) como o Chega pretendem "substituir o Governo" a partir da Assembleia da República (AR), tendo firmado uma "verdadeira parceria" para "dificultar a vida" ao Executivo de Luís Montenegro. Acusou, por isso, o secretário-geral dos socialistas, Pedro Nuno Santos, de ser "o rosto da normalização do Chega".
"Esses dois partidos que estavam em cumplicidade objetiva, que era o PS e o Chega, agora estão numa verdadeira parceria", atirou o responsável, em entrevista à SIC Notícias.
Na ótica de Paulo Rangel, o objetivo desta convergência passa por "dificultar a vida ao Governo", ainda que o Executivo tenha vindo a conseguir "impor a [sua] agenda".
"Há, de facto, partidos no Parlamento que se querem substituir ao Governo e que não querem deixar o Governo governar. [...] Estes partidos procuram fazer manobras, às vezes um pouco pruris, na AR, para dizer que se anteciparam ao Governo, quando conhecem a agenda do Governo, que está no seu programa e foi claramente enunciada pelo primeiro-ministro", disse.
O ministro dos Negócios Estrangeiros foi mais longe, tendo defendido que, "neste momento, o PS é o normalizador do Chega".
"Tanta preocupação houve nos jornais portugueses, nos debates de comentário, sobre o risco de se normalizar o Chega. Pedro Nuno Santos é o rosto da normalização do Chega, todos dias e todas as semanas no Parlamento", lançou, ao mesmo tempo que considerou que o partido de extrema-direita, que "fez do PS uma espécie de linha vermelhíssima, é o grande companheiro do PS".
Rangel acusou ainda os coletivos de se terem comprometido com "determinadas alianças e comportamentos no Parlamento aos eleitores" que, agora, "não estão a cumprir", razão pela qual desafiou os votantes socialistas a "pensarem muito bem se este é um voto que faz sentido".
Antes, o antigo eurodeputado salientou que, em cerca de 40 dias de funções, o Executivo da Aliança Democrática (AD) "já tomou uma série de medidas", apelando a que os cidadãos "fossem ver o que é que os outros Governos fizeram em 40 dias, alguns deles com maiorias absolutas ou com uma maioria parlamentar que os suportava".
"Há algum Governo, na história de Portugal, que ao fim de 30 dias tenha executado o seu programa? Este Governo já tomou imensas medidas", reiterou.
"Não podemos falar da CPLP e de Portugal como se Portugal tivesse alguma tutela sobre algum Estado da CPLP"
Questionado quanto ao acordo militar firmado entre São Tomé e Príncipe e a Rússia, Rangel foi taxativo, tendo recordado que aquele Estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) "é independente e soberano", pelo que "tem total legitimidade para fazer as suas escolhas". Além disso, a organização "não é uma aliança militar".
"Não podemos falar da CPLP e de Portugal como se Portugal tivesse alguma tutela sobre algum Estado da CPLP. Isto é errado. [...] É uma relação de igual para igual, é uma relação simétrica", disse.
O ministro dos Negócios Estrangeiros apelou, por isso, ao "bom senso", já que, pouco depois da descolonização, Portugal manteve "ótimas e intensas relações com todos os estados da CPLP", muitos do quais tinham e mantiveram "grandes colaborações com a Federação Russa após o fim da União Soviética".
"Isso nunca impediu que Portugal estabelecesse cooperação com esses Estados. Nessa altura, não ouvi ninguém pôr este problema desta maneira", disse, referindo-se à apreensão no que diz respeito à posição de Portugal face à invasão da Ucrânia.
Nessa linha, o ministro sublinhou: "Portugal não fica em xeque em caso nenhum. O Brasil faz parte da CPLP; fica em xeque? Angola faz parte da CPLP; fica em xeque?"
Ainda assim, Rangel assumiu que, na atual conjetura internacional, o acordo, cujos contornos não são conhecidos, "causa apreensão", tendo em conta o seu "carácter quase surpreendente, no sentido em que não era algo que se esperasse".
"Imediatamente entrámos em consulta com as autoridades são-tomenses para explicar que Portugal e vários outros Estados europeus manifestaram estranheza, apreensão e perplexidade com este acordo", assegurou.
Mas voltou a reforçar: "Tem-se falado tanto sobre o passado português e parece que, de vez em quando, esquece-se que estamos a falar de Estados independentes e soberanos."
Saliente-se que o acordo entre São Tomé e Príncipe e a Rússia foi, segundo a agência de notícias oficial russa Sputnik, assinado em São Petersburgo a 24 de abril, tendo começado a ser aplicado a 5 de maio. O documento prevê formação, utilização de armas e equipamentos militar e visitas de aviões, navios de guerra e embarcações russas ao arquipélago, de acordo com aquele meio.
A divulgação da assinatura deste acordo coincide com a visita que o presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, está a efetuar à Rússia, tendo previsto um encontro com o homólogo russo, Vladimir Putin.
[Notícia atualizada às 23h12]
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