Crismas. Padres acusados de agressão a madrinhas só casadas pelo civil

Casos aconteceram na ilha do Pico, nos Açores, no passado sábado, 1 de junho, em duas paróquias distintas. Pessoas que a Igreja considera não reunirem as condições exigidas, foram impedidas de ser madrinhas de crismandos com alguma violência. Alegadas vítimas consideram apresentar queixa às autoridades e expor a situação não só à Diocese de Angra como ao Vaticano.

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© César Ferreira

Natacha Nunes Costa
05/06/2024 09:50 ‧ 05/06/2024 por Natacha Nunes Costa

País

Açores

O passado sábado, 1 de junho, foi dia de Crismas na ilha do Pico, nos Açores. Contudo, ao contrário do que seria de esperar, para pelo menos duas famílias católicas cujos filhos iriam fazer o sacramento da Confirmação, a alegria ficou manchada por alegadas agressões protagonizadas por padres.

Um dos casos aconteceu na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, nas Lajes do Pico. Ao Notícias ao Minuto, Lisa Toste, que diz ter sido alvo de violência por parte de um pároco, conta o "triste episódio" que se passou com ela.

"Como está visível nas fotos, o padre Luís Manuel Rodrigues Garcia Dutra, pároco da Igreja da Ribeirinha, Santo Amaro e Prainha, agarrou o meu braço com violência e afastou-me para eu não pôr a mão no ombro do meu afilhado", recorda Lisa, explicando que isto tudo aconteceu porque é apenas casada pelo civil.

"O meu afilhado já é também de batismo. No momento do batismo estava em união de facto e não houve problema. Atualmente sou casada pelo civil. Dai a atitude do Padre Luís", esclarece, acrescentando que, dias antes da cerimónia, entregou ao padre da Igreja da Piedade, Paulo Baptista, um documento onde o padre da sua Igreja declarava que podia exercer o "múnus de ser madrinha" e este inclusive a autorizou a "pôr a mão em cima do ombro" do afilhado.

Antes da missa começar, conta Lisa ao Notícias ao Minuto, o pai do jovem foi confirmar "com o padre Paulo se se mantinha tudo 'ok' em relação a poder colocar a mão no ombro, o qual confirmou que sim".

Contudo, na altura da cerimónia, não foi isso que aconteceu. Lisa e o afilhado acabaram por ser confrontados pela situação constrangedora de, em plena missa, ter o padre Luís Dutra a tentar impedir o "múnus de ser madrinha", apesar do sacerdote da Piedade dizer "por várias vezes" que Lisa podia colocar a mão em cima do ombro do afilhado.

O caso, que a Diocese de Angra descreveu ao Notícias ao Minuto como uma "falta de comunicação" entre os dois padres, foi entretanto resolvida e Lisa pôde voltar a ser madrinha do afilhado. Contudo, além da revolta que deixou, a força aplicada no braço da açoriana piorou uma luxação em processo de cura.

Lisa pondera agora apresentar queixa na Polícia de Segurança Pública (PSP) e enviar uma carta ao bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues, a expor a situação.

Caso semelhante aconteceu em São Roque

Caso semelhante aconteceu no mesmo dia na igreja de Santo António, em São Roque, também no Pico.

"O Papa Francisco diz que a Igreja é para todos, que a Igreja não tem portas, que está aberta para todos, mas este senhor Tomás Brito, a quem nem consigo chamar padre, não é seu discípulo", começa por dizer ao Notícias ao Minuto, César Ferreira, pai de uma jovem crismanda que foi impedida de ter como madrinha quem tinha escolhido por esta ser casada apenas pelo civil.

"As fotografias comprovam, houve agressão física. Ele agarrou, empurrou, sacudiu. Foi visto por toda a gente", garante.

Perante tal confusão, a jovem, de 16 anos, saiu da igreja. Mais tarde acabou crismada, mas com outra madrinha, casada pela Igreja.

Diante tais agressões, "morais e físicas", César Ferreira não tem dúvidas: "Vai ser apresentada uma queixa na PSP por agressão e nós vamos constituir advogado para levar isto a outras instâncias".

Além da queixa às autoridades, a família vai enviar uma exposição do caso não só para a Diocese de Angra, como para o Vaticano.

Ao Notícias ao Minuto, a porta-voz da diocese de Angra, Carmo Rodeia, subscreve que o que aconteceu no Pico não pode acontecer, mas recorda que as pessoas que frequentam a Igreja têm de cumprir as regras inscritas no código de direito canônico, aprovado em 1983.

"Aquilo que se passou no Pico, não poderia ter acontecido, não deveria ter acontecido. Nem no Pico nem em lugar nenhum. Mas no fundo, o que aconteceu, foi um gesto irrefletido do sacerdote que quis acautelar estas regras que estão em vigor, que são aceites por todos, porque quem se abeira do altar para celebrar o sacramento do crisma está perfeitamente ciente e consciente deste conjunto de normas", explica Carmo Rodeia, admitindo que há regras que deviam ser revistas, tal como o Sumo Pontífice já fez questão de dizer.

"Há questões que já estão ultrapassadas, que já estão desadequadas e de facto o Papa já o tem dito várias vezes que precisam de ser necessariamente alteradas, mas estas são as regras que estão em vigor às quais temos de corresponder", diz sem se referir concretamente à obrigatoriedade do casamento pela Igreja para ser madrinha/padrinho de um crismando.

Questionada sobre se a Diocese de Angra tomará medidas junto dos sacerdotes acusados de agressão, a porta-voz disse apenas que esta "está a acompanhar a situação, com o cuidado que todas estas coisas merecem" e que "os padres em questão já tiveram oportunidade de falar com o senhor bispo".

Leia Também: BE pede inquérito a agressão de polícia a condutor de tuk-tuk

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