O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou, este domingo, a morte do jornalista João Paulo Guerra, aos 82 anos, descrevendo-o como "experiente e imaginativo".
Uma nota divulgada no site oficial da Presidência refere que o chefe de Estado "recebeu com profundo pesar a notícia do falecimento de João Paulo Guerra".
"Jornalista experiente e imaginativo, na rádio, onde primou, na imprensa e na televisão, foi sempre um militante contra a ditadura e depois do 25 de abril pelos ideais doutrinários e partidários que abraçava, exercendo ainda funções de provedoria dos ouvintes no serviço público de radiodifusão", lê-se.
"Escreveu várias obras sobre o Império e a Descolonização. Premiado inúmeras vezes, granjeou uma camaradagem na Comunicação Social e um apreço público, que se somaram a tantas amizades e deixaram um traço de saudade que o Presidente da República, que com ele privou muitos anos, deixa expressa ao apresentar as suas condolências à família, e em especial a sua irmã, Maria do Céu Guerra", acrescenta a nota.
Recorde-se que o jornalista morreu hoje em Lisboa vítima de doença, disse à agência Lusa fonte próxima do também radialista e escritor.
João Paulo Guerra morreu no hospital Curry Cabral, e estava doente há já algum tempo, disse a fonte, lembrando o último cargo que o jornalista exerceu - provedor do ouvinte do serviço público de Rádio.
Sempre conhecido por João Paulo Guerra, iniciou a carreira na rádio mas foi também jornalista na imprensa, trabalhou para televisão e escreveu uma dezena de livros.
De acordo com biografias publicadas pelas suas casas editoras, o jornalista iniciou-se profissionalmente na Rádio Renascença, passando depois para o serviço de noticiários do antigo Rádio Clube Português, onde deixou o nome associado a programas de informação e magazines, que se destacaram na viragem da década de 1960 para a seguinte, como PBX e Tempo Zip.
João Paulo Guerra Baptista Coelho Vieira nasceu em Lisboa, em abril de 1942, iniciando-se no jornalismo aos 20 anos, profissão que interrompeu quando prestou serviço militar em Moçambique. A mãe era fundadora da revista 'Crónica Feminina'.
Foi editor e repórter na ex-Emissora Nacional (1974) e chefe do Gabinete de Estudos e Planeamento da Direção de Programas desta estação, na origem da Rádio Difusão Portuguesa (1974-75).
Correspondente em Lisboa da Rádio Nacional de Angola (1976-1977), fez parte da equipa de fundadores da Telefonia de Lisboa (1985-1987), foi editor e repórter da TSF -- Rádio Jornal (1990-96) e da Central FM (1996).
Na Antena 1, foi responsável pelo programa 'Os Reis da Rádio' (2005-2006) e, durante mais de dez anos, a partir de 2006, pela 'Revista de Imprensa'.
Nos jornais, entre outros títulos, trabalhou para a Mosca, suplemento de fim de semana do Diário de Lisboa, então dirigido pelo escritor Luís Sttau Monteiro, fazendo parte da sua equipa.
Trabalhou também para o vespertino A Capital e o suplemento Cena 7, o República e o Musicalíssimo. Foi ainda chefe de redação do Notícias da Amadora (1972-74), esteve na redação de O Diário (1979-79), que chefiou de 1989 a 1990, além de ter sido colaborador permanente dos jornais O Jogo, Público e do semanário O Jornal.
Foi ainda editor e redator principal do Diário Económico.
Escreveu vários livros, especialmente de pesquisa jornalística, como 'Memórias das Guerras Coloniais', 'Savimbi Vida e Morte' e 'Descolonização portuguesa -- O regresso das caravelas', entre outros títulos, em jeito de crónica, como 'Polícias e Ladrões', 'Os Flechas Atacam de Novo' e 'Diz que é uma espécie de democracia'.
'Romance de uma Conspiração' e 'Corações Irritáveis', nome como foi identificada pela primeira vez a Perturbação Pós-Stresse Traumático de guerra, são outros dos seus livros, ambos obras de ficção.
Na televisão, trabalhou essencialmente para a SIC como guionista e repórter. No teatro, adaptou o romance 'Claraboia', de José Saramago, que foi posto em cena pela companhia A Barraca, com interpretação de sua irmã, a atriz Maria do Céu Guerra.
Ao longo da carreira jornalística conquistou uma dezena de prémios, nomeadamente da Casa da Imprensa, o Prémio Gazeta do Clube de Jornalistas, o Prémio Nacional de Reportagem do Clube de Jornalistas do Porto, o Prémio Reportagem de Rádio do Clube Português de Imprensa.
Em 2010 foi-lhe atribuído o Prémio Gazeta de Mérito e, em 2014, o Prémio Igrejas Caeiro da Sociedade Portuguesa de Autores, destinado a distinguir personalidades da rádio.
Entre 2017 e 2021 foi provedor do ouvinte na rádio pública.
Quando publicou 'Corações Irritáveis', em 2016, João Paulo Guerra disse à agência Lusa que este seu livro "fala da guerra, porque a guerra tem tantas sequelas que até a democracia em Portugal é um resultado da guerra", afirmou. "Foi da guerra que apareceram os homens que fizeram a democracia. Mas há também muitos 'corações irritáveis' e feridas que nunca cicatrizaram".
"Há guerras que não acabam e por muitos acordos de cessar-fogo que sejam assinados há sempre um cessar-fogo que cada um tem consigo próprio e que não é assinado", disse então à Lusa. "Mas este livro para mim é o meu cessar-fogo".
Leia Também: Morreu o jornalista João Paulo Guerra