Eram cerca de 10 horas quando uma escada foi "lançada" no Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, e ajudou à fuga de cinco reclusos – cujo paradeiro é ainda desconhecido.
A fuga destes homens, com idades entre os 30 e os 65 anos, não só deixou em alerta os guardas prisionais – mesmo que estavam de folga –, como também fez soar os alarmes lá fora. Mas enquanto a Polícia Judiciária (PJ) escrutina a prisão no município da Azambuja e o Sistema de Segurança Interna (SSI) se prepara para dar uma conferência de imprensa ao final da manhã de domingo, o que se sabe – e tudo o que se passou – nas primeiras 24 horas após a fuga?
Da "ajuda externa" às imagens da fuga
A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) deu conta de que a primeira avaliação feita às imagens de videovigilância mostrava que os homens fugiram "com ajuda externa através do lançamento de uma escada, que permitiu aos reclusos escalarem o muro e acederem ao exterior".
Pouco tempo depois, foram partilhadas as imagens do momento em que os reclusos escapavam. Nas mesma sé possível ver não só os fugitivos, como também elementos da "ajuda externa", que com trajes militarizados terão colocado a escada no espaço e permitido esta fuga.
Veja imagens da fuga na galeria acima.
Polícia Judiciária está no local... e 'alarmes' soam fora de Portugal
A PJ 'correu' para o local e realizou, durante a noite de sábado, buscas nas celas do estabelecimento prisional. De acordo com a RTP3, houve um reforço dos guardas e os investigadores estiveram a "reunir indícios em perícias". Numa "noite normal", estariam no local a trabalhar dez guardas prisionais - ontem, estiveram pelo menos 50.
Também uma reconstituição da fuga terá sido feita, de acordo com a CNN Portugal.
O Sistema de Segurança Interna (SSI) explicou que há, neste caso, uma "estreita cooperação e coordenação entre as diversas entidades nacionais". Durante a tarde, esta entidade reuniu-se com PJ, a Polícia de Segurança Pública, a Guarda Nacional Republicana e a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais para "partilhar informações".
O SSI pediu ainda, em comunicado, que "qualquer informação relevante deve ser comunicada às autoridades policiais", explicando também foi "agilizada a cooperação policial internacional" para a captura dos cinco reclusos.
Mas quem são estes homens?
Os fugitivos são de várias nacionalidades, incluindo dois portugueses, um britânico, um argentino e um georgiano. Mas quem é quem?
Um dos reclusos é Fábio Santos Loureiro, conhecido pelas alcunhas 'Terror do Algarve' e 'Fábio Cigano', estava a cumprir uma pena de 25 anos de prisão. Loureiro é natural de Lagoa, no distrito de Faro, e foi condenado por vários crimes, entre eles associação criminosa, furto qualificado, tráfico, extorsão e branqueamento de capitais. Entrou no Vale de Judeus a 28 de março de 2023, transferido do Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz, em Grândola.
Já Fernando Ribeiro Ferreira, de 60 anos é natural de Tarouca, distrito de Viseu e foi condenado por tráfico de droga e "outros ilícitos". O homem, que estava em Alcoentre desde 2020, após uma transferência de Paços de Ferreira, "liderava um grupo organizado e violento" que operava no Centro. Cumpria uma pena de prisão de 25 anos.
© SNCGP/Facebook
Rodolf José Lohrmann, de 59 anos, foi condenado por associação criminosa, furto e falsificação a 18 anos e 10 meses de prisão e deu entrada na prisão de Alcoentre a 6 de março de 2024, transferido da prisão do Monsanto. De acordo com as publicações internacionais, 'El Ruso', como também é conhecido, fez mesmo parte da lista dos mais procurados do país. O homem foi detido em Portugal, mas, segundo o que a imprensa explica, na Argentina chegou mesmo a ser um dos responsáveis pelo rapto do filho de um antigo ministro. 'El Ruso' terá recebido o valor do resgate que pediu, mas o jovem nunca apareceu desde que foi raptado - em 2023.
Há ainda um recluso oriundo do Reino Unido, chamado Mark Cameron Roscaleer, com 35 anos, condenado por roubo e sequestro. Deu entrada em Vale de Judeus a 12 de agosto de 2020, transferido do Estabelecimento Prisional do Monsanto, e cumpria uma pena de nove anos.
A lista de fugitivos 'fecha' com o georgiano Shergili Farjiani, de 40 anos, condenado por furto qualificado e "violência depois da subtração". Deu entrada naquele estabelecimento prisional a 8 de fevereiro de 2021, transferido do Estabelecimento Prisional do Porto, e cumpre uma pena de sete anos.
À CNN Portugal, o antigo inspetor da Polícia Judiciária André Inácio explicou que dois doos fugitivos, o argentino Rodolf José Lohrmann e o português Fábio Santos Loureiro, já se conheciam de outro estabelecimento prisional, tendo, inclusive, "tentado uma fuga anteriormente".
O também membro d Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo apontou também que "as falhas" existentes se deviam a mudanças feitas em 2017, quando se eliminaram as torres de vigilância, substituindo-as pelas câmaras. Na altura,António Costa era primeiro-ministro e Eduardo Cabrita o responsável pela pasta da Administração Interna.
Com país alerta, Belém não tardou a reagir
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, garantiu ontem que estava a "acompanhar a situação desde o primeiro minuto". "É uma situação que é sempre indesejável. Esperamos que seja resolvida e enfrentada o mais rapidamente possível", disse, esperando que "o próprio Governo" não deixasse de "informar os portugueses".
[Notícia atualizada às 10h54]
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