Em comunicado hoje enviado à agência Lusa, a associação Último Recurso realça que se trata do primeiro caso de litigância climática em Portugal.
A associação Último Recurso foi criada em 2022 e tem como missão utilizar os meios legais para responsabilizar aqueles que são considerados os principais contribuidores para a crise climática em Portugal.
"A decisão será um marco na história da litigância climática em Portugal, numa altura em que há cada vez mais casos de luta climática ao nível internacional que encontraram apoio nos tribunais", refere a associação, considerando que hoje "a litigância climática dá um novo passo histórico em Portugal".
Na sexta-feira o STJ vai decidir sobre o prosseguimento da ação judicial interposta em novembro de 2023 pela Associação Último Recurso, a Quercus e a Sciaena contra o Estado português pelo incumprimento da Lei de Bases do Clima, cujos prazos "continuam em atraso".
A ação judicial - adianta a Último Recurso - procura "encontrar na justiça a resposta à crise climática que o Estado português não deu".
A Lei de Bases do Clima foi aprovada em 2021 com um amplo consenso à esquerda e à direita, mas, no entender dos autores da ação judicial, o Estado português falhou na implementação de medidas, designadamente a elaboração de orçamentos de carbono, a atualização de um portal de ação climática e aprovação dos planos setoriais de mitigação e de planos setoriais de adaptação.
"Estas diligências são essenciais para assegurar uma redução até 2030 de, pelo menos, 55% da emissão de gases de efeito de estufa em relação aos valores de 2005", salienta a Último Recurso.
A petição inicial foi recusada no Tribunal Cível de Lisboa, em maio de 2024, mas a Último Recurso, a Quercus e a Sciaena recorreram para o STJ, que vai decidir sobre a continuidade do processo.
Os três grupos de defesa do clima manifestam-se confiantes num desfecho positivo por parte dos juízes do STJ, na expectativa de que a justiça portuguesa acompanhe a tendência da jurisprudência internacional que, nos últimos anos, julgou e apoiou diversas ações em defesa do clima.
A este propósito, recordam que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos fez história, em abril, ao dar razão a um coletivo de idosas suíças conhecido como "Avós pelo Clima", ao reconhecer a incapacidade do Estado suíço de adotar as medidas necessárias para assegurar uma redução importante e progressiva dos níveis de emissões.
Mais recentemente, o Tribunal Constitucional da Coreia do Sul decidiu, por unanimidade, que parte da lei climática do país não está em conformidade com a proteção dos direitos das gerações futuras, veredicto que abre precedentes para novas ações legais relacionadas ao clima em toda a Ásia.
A Último Recurso solicitou também, em agosto de 2024, ao Ministério de Ambiente e Energia e ao Ministério das Finanças o acesso a 18 documentos relativos à Lei de Bases do Clima. O Ministério do Ambiente concedeu resposta elencando um conjunto de medidas adotadas e metas propostas pelo atual Governo, que não se traduzia no acesso aos documentos solicitados.
"O Ministério das Finanças não respondeu, até à data, ao pedido formulado. Perante esta inação, a Último Recurso acredita que uma decisão judicial positiva possa solidificar o acesso à justiça ambiental em Portugal", indica o comunicado.
Segundo as três associações, dar uma resposta urgente à crise climática e cumprir a Lei de Bases do Clima é "fundamental para garantir um planeta saudável para todos, especialmente para os portugueses, que estão a sentir cada vez mais os efeitos das alterações climáticas", pois a "seca e a escassez de água estão a impactar culturas agrícolas de norte a sul do país, os incêndios rurais quase duplicaram em julho e Portugal sofreu várias ondas de calor no verão".
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