Saúde de Salgado? "Está em causa impossibilidade de exercer defesa"

O advogado de arguidos no caso BES prestou declarações aos jornalistas no Campus da Justiça, em Lisboa. Tiago Rodrigues Bastos defende que era "uma melhor medida, inclusive no âmbito deste processo, que os lesados pudessem mais depressa receber a contrapartida do que está arrestado no âmbito deste processo".

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© Horacio Villalobos#Corbis/Corbis via Getty Images

Notícias ao Minuto com Lusa
16/10/2024 13:23 ‧ 16/10/2024 por Notícias ao Minuto com Lusa

País

BES/GES

O advogado de arguidos suíços que terão participado no alegado esquema de associação criminosa que está na base do processo BES/GES falou, esta quarta-feira, aos jornalistas. Durante a sua intervenção no tribunal e à saída, Tiago Rodrigues Bastos deixou algumas críticas à atuação do tribunal, nomeadamente, em relação ao estado de saúde de Ricardo Salgado.

 

"Está, seguramente, em causa, a verdadeira impossibilidade de um cidadão que é arguido num processo criminal exercer a sua defesa", afirmou junto ao Campus da Justiça, em Lisboa.

"Obviamente que num processo desta natureza, em que ele é o principal arguido e todos os outros estão acusados em co-participação com ele... Isso não é um facto inócuo para o resto das defesas. Isso tem de ser avaliado, pesado, pelo tribunal", afirmou.

O advogado acrescentou também que há certas questões que são "complexas" e que podem ter consequências num julgamento justo".

O advogado não quis aprofundar quais seriam em concreto as implicações do estado de saúde de Ricardo Salgado na defesa dos restantes arguidos, justificando que não quer "discutir essa ideia na praça pública" e que não quer "fazer teoria jurídica à porta do tribunal".

Tiago Rodrigues Bastos reiterou ainda que existe uma "grande pressão" dos media e da opinião pública sobre este julgamento, criticando a forma como alguns comentadores de televisão têm abordado o tema.

"Ideia de que a paz social se alcança porque alguém é condenado neste processo... Com toda a justiça, é um bocadinho ridícula"

Durante as suas declarações junto ao Campus da Justiça, o advogado defendeu ainda que "mais importante do que do que no final do dia obter condenações ou absolvições - e é óbvio que desejamos obter absolvições - é que não haja dúvidas sobre o funcionamento de tribunais".

Questionado sobre a complexidade deste processo, o advogado Tiago Rodrigues Bastos apontou que o acervo do processo era "brutal" e que achava que "este processo tem situações complexas, que devem ser analisadas com profundidade e calma".

"A ideia de que a paz social se alcança porque alguém é condenado neste processo... Com toda a justiça, é um bocadinho ridícula. Nem os lesados vão ficar melhor na vida, nem pior. Devíamos todos - era uma melhor medida -, inclusive no âmbito deste processo, para que os lesados pudessem mais depressa receber a contrapartida do que está arrestado no âmbito deste processo", defendeu.

O advogado defendeu ainda que "não podemos confundir a circunstância de ter existido uma 'debacle' [queda] de um grupo económico e de efetivamente terem existido muitas pessoas lesadas e muitas pessoas que a sua vida ruiu com essa circunstância - e que são dignas da nossa compaixão e compreensão. [Mas] o que eu digo é que isso não se configura imediatamente e por si só num facto político-criminal", afirmou ainda.

Criticou ainda que na acusação conste o crime de associação criminosa porque isso é o mesmo que dizer que o objeto social das pessoas ligadas ao BES seria a prática de crimes.

O processo

O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.

Entre os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.

Além de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos, nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.

A manhã ficou ainda marcada pela identificação das arguidas Isabel Almeida e Cláudia Boal Faria perante o tribunal, uma vez que não tinham estado presentes na primeira sessão do julgamento.

A ex-diretora financeira do BES e a antiga diretora-adjunta do DFME recusaram prestar declarações nesta fase.

Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.

[Notícia atualizada às 14h23]

Leia Também: BES. Defesa alega que arguidos do 'financeiro' não praticaram corrupção

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