Miguel Sousa Tavares comentou, na noite desta quinta-feira, a morte de Odair Moniz às mãos de um agente da Polícia de Segurança Púbica (PSP), na Cova da Moura - e os desacatos que deste incidente resultaram. Na antena da TVI, salientou que "não podemos aceitar a presunção de desresponsabilização do polícia".
Por um lado, "para mim, nós temos de, até ao fim, defender a presunção de inocência do polícia em causa", mas, por outro, "também não podemos aceitar a presunção de desresponsabilização do polícia - e foi isso que a PSP fez imediatamente no primeiro comunicado", começou por assinalar Miguel Sousa Tavares.
Ainda sobre esta nota inicial que a PSP emitiu sobre o caso, o comentador considerou: "Olhei para aquele comunicado e disse: 'Isto é mentira, isto é falso, isto está incompleto. Faltam aqui informações, no mínimo'. E acho que foi o comunicado - tanto como a morte de Odair -, que instalou a revolta naqueles bairros porque as pessoas não aceitaram aquela versão".
E acrescentou: "A PSP sistematicamente faz isto. Em lugar de fazer a única coisa decente e séria que é dizer: 'Houve um incidente grave, nós vamos investigar e depois dizemos o que terá acontecido'".
Tendo em conta que "não houve arma" e "o carro não era roubado", há uma pergunta que, na ótica de Miguel Sousa Tavares, "se impõe": "Porque é que o perseguiram? [...] Pisou o traço contínuo? Eu já pisei vários traços contínuos, espero não ser morto pela polícia por causa disso".
Para o também ex-jornalista, o comunicado exaltou então os ânimos: "É óbvio que isso não justifica os crimes que temos assistido na via pública, não justifica os autocarros incendiados, não justifica os atos cobardes de atirar cocktails molotov para dentro de um autocarro e ferir com gravidade o motorista", mas "possibilitou esse aproveitamento".
De lembrar que desde a noite de segunda-feira que se registam desacatos no Zambujal e, desde terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados autocarros, automóveis e caixotes do lixo.
Mais de uma dezena de pessoas foram detidas, o motorista de um autocarro sofreu queimaduras graves e dois polícias receberam tratamento hospitalar, havendo ainda alguns cidadãos feridos sem gravidade.
A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
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